O problema e a ação
No mundo inteiro o automóvel é uma das mais espantosas e eficientes formas de extermínio criadas pelo ser humano. A epidemia, ou melhor, a endemia começou na primeira metade do século 20, com a propagação do carro como a grande solução para os problemas de mobilidade que travavam a liberdade de ir e vir, restrita aos percursos dos trens ou aos limites da tração animal.
Com a linha de produção, introduzida por Henry Ford, criou-se também uma das bases da riqueza e do bem estar social experimentado pela humanidade a partir do final da Primeira Guerra Mundial.
Nunca, até então, o ser humano gozara de riqueza, saúde e expectativa de vida semelhante. Com a linha de montagem e com o automóvel como carro chefe, a repartição da riqueza e o surgimento de novas classes sociais formadas pelos trabalhadores da indústria modificaram para melhor tudo o que o mundo havia visto até então.
Mas toda moeda tem dois lados. O automóvel não é diferente. Se com ele aumenta a riqueza e a expectativa de vida em função de melhores condições de higiene e saúde pública, aumenta também o número de acidentes de todos os tipos, ceifando a vida de pessoas inocentes, envolvidas em desastres de todos os tipos, com e sem culpa dos motoristas.
O automóvel é uma das mais eficientes ferramentas de matar jamais criadas. Em todos os países a preocupação com o custo social desta verdadeira carnificina levou à criação de regras rígidas para o trânsito, construção de veículos cada vez mais seguros e avanços inacreditáveis na medicina especializada em acidentes, além de planos obrigatórios de seguros para custear os prejuízos de todas as sortes causados pelos veículos e seus condutores.
O Brasil ocupa lugar de destaque no universo dos campeões de acidentes e mortes no trânsito. São perto de 60 mil pessoas por ano, o que faz este tipo de evento ter lugar de destaque, na frente de várias doenças fatais, nos números oficiais e nas tábuas de mortalidade do país. Por exemplo, os acidentes de trânsito e os assassinatos influenciam a idade média do brasileiro, na medida em que a maioria das vítimas destes tipos de violência é de jovens com menos de 30 anos de idade.
Se alguma atividade econômica privada sente diretamente o impacto dos acidentes de trânsito, com certeza é o setor de seguros. Sente antes de tudo porque está diretamente atrelado ao suporte de parte importante destes custos, através de produtos como o DPVAT, os seguros de veículos, vida, acidentes pessoais e planos de saúde privados, todos afetados pela altíssima sinistralidade.
Faz tempo que o tema é assunto recorrente nas rodas dos profissionais do setor. Seguradoras e corretores se preocupam com ele e buscam incessantemente soluções para minimizar os impactos sociais e econômicos decorrentes dos acidentes de trânsito.
É por isso que a partir de 15 de maio, até o final do mês, o Sindicato das Seguradoras (Sindseg/SP) e o Sindicato dos Corretores de Seguros do Estado de São Paulo (Sincor/SP), em parceria com a ONG Terapeutas do Trânsito colocam nas ruas paulistanas e nas ciclovias uma série de ações que fazem parte do movimento “Maio Amarelo”, criado para chamar a atenção para os custos absurdamente altos em vidas humanas que os acidentes de trânsito representam no mundo inteiro.
Serão intervenções para colocar em pauta o tema da segurança viária, alertando autoridades e população de que não adianta se esconder atrás dos chavões de sempre. Sem ações concretas e conscientização do problema, os automóveis continuarão sendo tão eficientes quanto as metralhadoras na arte de matar.
A campanha tem como símbolo um laço amarelo, seguindo a tendência baseada no laço vermelho adotado com tanto sucesso pelas campanhas para o controle do vírus HIV.
Se o ser humano tem capacidade para se unir em volta da bandeira do combate a AIDS, do câncer de mama, do câncer de próstata, por que não consegue fazer algo minimamente semelhante no combate aos acidentes de trânsito?
Os sindicatos das seguradoras e dos corretores paulistas estão convencidos que mais do que nunca, a hora é agora. Antes já morreu muita gente. Daqui pra frente está nas nossas mãos mudar o quadro.
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