Números ruins para o seguro de automóveis?
Originalmente publicado no jornal SindSeg SP.
por Antonio Penteado Mendonça
A composição do preço de um seguro tem como principal vetor o total de indenizações pagas. É o número mais expressivo entre os vários fatores que embasam o cálculo da seguradora. Além das indenizações, os outros custos relevantes são as despesas administrativas e as despesas comerciais e, do outro lado, a aplicação dos pagamentos recebidos no mercado financeiro melhora o resultado.
No seguro de veículos, dependendo do momento econômico, quando a remuneração das aplicações é alta, é possível se ganhar dinheiro mesmo com o resultado puro da conta de aceitação de risco estando negativo.
A conta de aceitação de riscos, de forma simples, é o faturamento menos indenizações, despesas administrativas e despesas comerciais mais o resultado do investimento do faturamento. Assim, quando se tem uma situação como a atual, em que os juros básicos estão acima de 13%, se a seguradora tiver um resultado industrial de menos cento e seis pontos, por exemplo, os juros compensam o prejuízo de seis pontos e ainda permitem a companhia ganhar dinheiro com o negócio.
Para que este cenário persista no tempo é importante a seguradora controlar as indenizações para que elas não escapem e não desequilibrem a conta. As despesas comerciais e as despesas administrativas são mais fáceis de controlar e normalmente permanecem estáveis, ou com variações pequenas, no período de um ano, que é o tempo médio das apólices brasileiras.
É aqui que os dados que eu vou trazer podem comprometer a política comercial de seguros de veículos de mais de uma seguradora. Os números apresentados para o primeiro semestre do ano trouxeram duas informações que podem ter impacto negativo na composição do preço dos seguros de automóveis.
A primeira é que houve o aumento do número de acidentes de trânsito na cidade de São Paulo. Nos primeiros seis meses do ano, foram 20 mil acidentes de todos os tamanhos, de pequenas batidas a grandes colisões. Além disso, houve o aumento de 4,6% no número de furtos e roubos. A soma desses desempenhos negativos pode comprometer o resultado das carteiras das seguradoras que operam na modalidade e isso pode fazê-las rever suas políticas de preço, elevando o custo dos seguros.
Se isto vai acontecer ou não depende de uma série de fatores que determinam o resultado de uma carteira de seguros. Não há dúvida que o aumento dos acidentes e o aumento dos furtos e roubos são duas notícias com potencial para piorarem o resultado geral da carteira de seguros de veículos, mas isso não significa que eles atinjam de forma uniforme todas as seguradoras. Algumas serão mais impactadas, outra menos. Além disso, o comportamento da concorrência tem peso significativo nas políticas adotadas pelas companhias. Assim, uma seguradora mais impactada pode decidir não elevar o preço para ganhar volume, vendendo mais seguros e compensado o aumento das perdas com o aumento das vendas.
Finalmente, é bom não esquecer que os juros brasileiros não cairão desabaladamente do dia para a noite. Então, ainda tem um bom tempo com juros altos para compensarem o resultado puro negativo. Neste cenário, pelo menos por um período, é possível não aumentar o preço do seguro para compensar o aumento das indenizações.
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