Mudança de humor
Originalmente publicado no jornal SindSeg SP.
por Antonio Penteado Mendonça
O setor de seguros mudou de humor. As avaliações que vinham sendo positivas desde o ano passado, estão ficando mais pessimistas. Na origem da mudança está o quadro político completamente indefinido, a não votação da reforma da previdência social e o desemprego que se mantém firme na casa dos 13 milhões de brasileiros.
A mudança de humor está correta e representa a frustração que atingiu várias pessoas que imaginavam que o conseguido até 2017 seria suficiente para fazer o Brasil deslanchar.
É verdade, nos últimos meses as reformas emperraram, o quadro político ficou completamente embaçado, as incertezas ameaçam a inflação baixa e a volta de juros mais altos está no radar de todo mundo.
Isso não significa que o atual governo não fez muito. Fez e fez de verdade, na reforma trabalhista, na lei do teto de gastos, no marco regulatório para as estatais, no saneamento da Petrobrás, na queda vertiginosa da inflação e da taxa de juros.
O Brasil tem outra cara, completamente diferente da deixada por Dilma Rousseff e sua turma, na maioria incompetente ou corrupta. O estrago feito pelo achismo chauvinista da presidente que queria empacotar vento não tem paralelo na história do país. Foi muito mais danoso do que toda a corrupção somada. E, no entanto, a impressão passada para a população é que seu impeachment foi um golpe articulado pelas forças reacionárias da nação. Que o atual governo não teria legitimidade, o que é um absurdo, na medida que o Presidente foi eleito vice junto com ela.
Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. No mundo real é quase assim. Muitas vezes a imagem que fica é completamente diferente da imagem verdadeira. É o caso do Governo Temer e isso ajuda a complicar a leitura do quadro e, consequentemente, aumenta o pessimismo das pessoas.
Mas há mais e este mais pode ser creditado à má avaliação do cenário político, as distorções jurídicas embutidas nas decisões do Supremo Tribunal Federal, no ativismo exacerbado dos juízes de primeira instância, no desmoronamento da maioria do Governo no Congresso Nacional.
A fragilidade do Presidente Temer e sua equipe foi escancarada com a greve dos caminhoneiros. O rei está nu e todo mundo sabe, porque todo mundo viu. A avaliação dos assessores do Presidente quanto à extensão do movimento foi inteiramente equivocada. Por conta disso, o Governo cedeu, cedeu, e não sabe como consertar o mais que foi cedido e que inviabiliza grande parte da atividade econômica do país.
O resultado deste quadro é a insegurança e o desconhecido como parâmetros para a tomada de decisões nas empresas. Evidentemente, os empresários colocaram o pé no freio e investimentos praticamente certos toraram-se incertos, atrelados a uma melhor compreensão do que está acontecendo.
O setor de seguros não é a exceção à regra. Ele está mais pessimista porque os resultados da economia estão abaixo do esperado quando seus orçamentos foram elaborados.
Importante salientar que este pessimismo não significa necessariamente que o ano de 2018 será ruim para todo mundo. O negócio de seguro é uma atividade que evolui com o decorrer do tempo. Poucas apólices são pagas à vista e a maioria dos sinistros não acontece no dia seguinte à contratação do seguro. Ao contrário, eles acontecem espaçadamente ao longo do ano.
Em função destas características típicas da atividade, o faturamento de 2018 está em grande parte assegurado por negócios que foram fechados em 2017 ou no começo de 2018.
Quer dizer, nem todas as seguradoras serão afetadas pelas mudanças políticas e econômicas que atingiram o Brasil. A grande incógnita é o que vai acontecer nas eleições e, consequentemente, no ano de 2019. Dependendo dos resultados, o país pode sair rapidamente da crise em que está, ou pode mergulhar de cabeça num cenário muito mais grave, que custará anos de esforços para ser ultrapassado.
De qualquer forma, a mudança de humor do setor de seguros tem base real. E nestas situações, como diz o caipira, “cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém”.
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