Guerra e seguro
Originalmente publicado no jornal SindSeg SP.
por Antonio Penteado Mendonça
O aumento da tensão na região do Golfo Pérsico, com Estados Unidos e Irã passando perto de um conflito, desencadeando ações militares um contra o outro, num ritmo preocupante, teve como primeira consequência o aumento do preço do petróleo e, logo em seguida, a queda das principais bolsas de valores do mundo.
Nada fora do roteiro tradicional, que teve seu ápice nos anos 1970, quando os preços do petróleo dispararam, causando uma das maiores crises econômicas depois da Segunda Guerra Mundial.
A região do Golfo é extremamente importante e, por isso mesmo, delicada. Dela sai boa parte do petróleo consumido pelo mundo, começando pelas exportações da Arábia Saudita, fundamentais para o equilíbrio do preço do petróleo e de seus derivados ao redor do planeta.
São centenas de navios navegando diariamente pelas suas águas, a maioria transportando petróleo, e praticamente todos vulneráveis a eventuais ataques com mísseis e foguetes. Ou seja, a possibilidade de naufrágios e incêndios em decorrência do novo cenário é real e bem mais elevada do que no final do ano passado.
Os prejuízos decorrentes no caso de um ataque desta natureza seriam significativos, não só pelo valor dos superpetroleiros, mas também pelo preço do óleo estocado em seus tanques.
No ano passado, o Irã atacou e prendeu alguns navios. Agora, com as recentes ações contra as bases norte-americanas, o país, além de sinalizar que quer baixar a fervura, mostra que tem equipamentos sofisticados, capazes de atingir um petroleiro com acurada precisão e com raio de ação suficiente para alcançar toda a região.
Todavia, o tráfego de embarcações não foi interrompido. Os supertanques prosseguem em suas viagens e outros tipos de navios singram as águas perigosas transportando mercadorias de todos os gêneros, importadas pelas nações árabes para abastecer seus mercados.
Grande parte da explicação para este cenário se chama seguro. Ao longo da história, mesmo nos maiores conflitos, o tráfego marítimo se manteve intenso, como aconteceu na Segunda Guerra Mundial, quando enormes comboios demandavam a Grã-Bretanha abastecendo os ingleses com mercadorias e matérias primas indispensáveis para seu esforço de guerra.
A principal causa do fracasso alemão na Batalha do Atlântico foi a capacidade de reposição das embarcações afundadas e isso só foi possível porque as seguradoras britânicas mantiveram os seguros dos navios e suas cargas durante todo o conflito. Não fossem as indenizações pagas por elas, a Grã-Bretanha não teria os recursos para a fabricação dos navios necessários para a reposição da frota e a manutenção do fluxo de transporte exigidos pela guerra.
Hoje, a situação não é diferente. As seguradoras que operam com estes tipos de risco oferecem cobertura para os navios e suas cargas, mediante a inclusão de uma cláusula especial para fazer frente ao cenário do Golfo Pérsico.
Sem esta garantia, os proprietários de navios, armadores e donos de cargas não correriam o risco de colocar seu patrimônio numa operação como a navegação numa zona de guerra ou de potencial conflito armado, na qual navio e cargas são alvos reais.
Ainda que tivesse tamanho para aceitar integralmente um risco desta natureza, nenhuma seguradora se atreveria a oferecer este tipo de proteção sem a garantia de uma complexa trama de resseguros, destinada a garantir sua higidez no caso da perda total de um superpetroleiro carregado.
Sem estas apólices o comércio com os países do Golfo Pérsico seria interrompido, aumentando em muitos bilhões de dólares os prejuízos decorrentes da situação explosiva que atinge a região.
É evidente que estas cláusulas custam e que o preço adicional do seguro impacta o preço final do petróleo, mas o resultado é muito mais interessante e mais barato do que os prejuízos de uma crise gerada pela impossibilidade da colocação no mercado do petróleo produzido pelos países do Golfo Pérsico.
Graças às apólices de seguros é possível ao ser humano assumir riscos que de outra forma inviabilizariam a operação.
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