Penteado Mendonça Advocacia

Herdeiro de uma tradição jurídica iniciada em 1860.

PT | EN

Insira abaixo seu e-mail caso deseje fazer parte do nosso mailing:

Estamos à disposição: contato@pmec.com.br 11 3879.9700

Crônicas & Artigos

em 24/02/25

Emergências de verão

Originalmente publicado no O Estado de S. Paulo.
por Antonio Penteado Mendonça

O verão de 2025 está sendo a continuação do avanço das emergências climáticas ao redor do planeta. O Brasil não está fora da rota e os efeitos do La Niña estão sendo sentidos em todo o território nacional, especialmente no calor absurdo que atinge o Rio Grande do Sul e nas chuvas torrenciais que inundam o Nordeste. O La Niña gerou temperaturas muito acima da média histórica do Rio Grande do Sul e despencou chuvas torrenciais, fora de época, em vários pontos do Nordeste. O fenômeno revolucionou o clima do verão brasileiro, elevando a temperatura onde normalmente é menos quente, e fazendo chover na época da seca em regiões integrantes do semiárido nacional.

Mas o que acontece no planeta mostra que não somos os únicos a vivermos mudanças radicais no comportamento do clima e não somos os únicos a sofrermos perdas de vulto. Em comparação com o que aconteceu na Califórnia, nossas perdas, enormes para um país com uma população pobre, são muito menores. A Califórnia pode ter tido perdas de 150 bilhões de dólares. E o que aconteceu na Califórnia pode se repetir em outros lugares, especialmente no sul da Europa, causando perdas da mesma ordem. A única certeza é o aumento da intensidade e da frequência destes eventos, e aí os incêndios que varreram o Brasil em 2024 são um bom exemplo da impotência humana diante das forças naturais alavancadas por eventos até agora atípicos, mas que vão se tornando comuns.

Ficando no Rio Grande do Sul, que se sobressaiu como campo de provas para as ocorrências climáticas nos últimos anos, o estado, no espaço de menos de mil dias sofreu uma seca severa, seguida de chuvas torrenciais, que alguns meses depois repetiram a dose, para dar lugar a outra seca e a altas temperaturas inéditas na região.

“Se ficar o bicho come, se correr o bicho pega”. De um jeito ou de outro, ao longo desses meses, o Rio Grande do Sul sofreu prejuízos que, somados, ultrapassam os 100 bilhões de reais. Estima-se que só as chuvas de maio causaram perdas de mais de 50 bilhões de reais. Se adicionarmos a elas os prejuízos das secas e das outras chuvas, a casa da centena de bilhões é uma ordem de grandeza conservadora.

Em consequência das chuvas de maio, o setor de seguros indenizou em torno de 2 bilhões de reais, número importante para a atividade, mas muito abaixo dos prejuízos. Assim, o grosso da conta ficou com os governos estadual e federal, nenhum dos dois famoso pela compaixão com as vítimas, a maioria das camadas menos favorecidas da população, que já vinham de prejuízos expressivos, por conta dos eventos climáticos anteriores.

Essa situação precisa ser repensada. Não é possível que milhões de brasileiros, regularmente, percam praticamente tudo, vítimas de eventos que irão crescer de intensidade e frequência ao longo dos próximos anos. As seguradoras estão atentas e discutindo o tema para encontrar soluções onde possam ser mais efetivas. Além disso, recentemente, um deputado federal protocolou na Câmara dos Deputados um projeto de lei criando um microsseguro social. Agora pode ser o momento ideal para transformá-la em realidade.

Voltar à listagem