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Crônicas & Artigos

em 10/04/20

E agora, 2020?

Originalmente publicado no jornal SindSeg SP.
por Antonio Penteado Mendonça

Até meados do ano passado, 2020 tinha tudo para ser um bom ano. As projeções mostravam que o Brasil cresceria em torno de 2,5%, patamar relativamente baixo, mas acima do crescimento de 2017 e 2018. E, o mais importante, consistente.

Ninguém tinha dúvida sobre o desempenho do agronegócio, que continuaria bombando, apesar do acordo Estados Unidos/China prever o aumento da compra de produtos agrícolas norte-americanos pelos chineses. A mineração também deveria continuar contribuindo significativamente para a balança comercial, garantida pelas importações chinesas. O setor de serviços puxava a retomada da economia, aparecendo como o campeão das contratações de mão de obra com carteira assinada. O comércio teve um grande Natal. E a indústria, ainda que patinando, começava a avançar, puxada pela construção civil, se destacando como um dos setores responsáveis pela retomada do crescimento nacional. Não tinha como dar errado. O Brasil teria um ano positivo, o que era confirmado pela taxa de desemprego, caindo aos poucos, mas constantemente.

A Reforma da Previdência Social era a prova de que as coisas estavam entrando nos eixos e que os políticos e a nação convergiam na direção de fazer as reformas indispensáveis para o país se livrar dos altos custos que impedem que nossos produtos sejam competitivos. As próximas seriam a Reforma Tributária e a Reforma Administrativa, que, quando concluídas, tornariam o Estado mais leve a e carga tributária pelo menos mais organizada.

Todos os sinais apontavam para um céu de brigadeiro e mar de almirante, restando ao país aproveitar o momento internacional, com projeção de crescimento acima de 3%, para aumentar seu cacife para fazer de 2020 um belo ano.

A certeza de nosso sucesso se refletia positivamente no desempenho da Bolsa de Valores de São Paulo, batendo recorde atrás de recorde e avançando em patamares inéditos em nossa história.
Só que não foi bem assim que as coisas evoluíram. De repente, as projeções para 2019 não se cumpriram, o crescimento nacional ficou abaixo das previsões. A Reforma Tributária emperrou e a Reforma Administrativa faz que vai, mas até agora não foi. Como se não bastasse, a China foi o berço de um novo tipo de coronavírus, que se espalhou pelo mundo rapidamente, se instalando em mais de cem países e levando o pânico à economia mundial.

Não vem ao caso se a letalidade do vírus é baixa, apresentando perigo basicamente para idosos e pessoas com baixa resistência imunológica. Pânico não tem lógica, nem bom senso. Assim, se os riscos dos estragos causados pela doença estão ou não superavaliados, tanto faz, as consequências são ruins e o mundo as sente na pele, tanto que a OCDE reviu bem para baixo as projeções de crescimento da economia internacional em 2020.

Mas se o coronavírus é um desastre capaz de fazer a recessão de 2008 parecer conversa de criança, as coisas ficaram piores. Numa ação com razões pouco claras, a Arábia Saudita aumentou a produção e baixou o preço do petróleo. Ainda é cedo para se saber o tamanho do estrago, mas se o petróleo se mantiver nos novos patamares ou, pior, cair para vinte dólares o barril, teremos a tempestade perfeita, formada pela expansão do coronavírus, a crise no mercado de petróleo e os dois impactos na economia global.

O Brasil já foi afetado pelos desdobramentos internacionais. Com uma agravante: a epidemias do coronavírus vai custar muito caro. Com o país fechado, a economia vai entrar em recessão. Nossos fundamentos não são sólidos para aguentar o baque. Teremos problemas de desemprego e quebra de empresas. Exportaremos menos e corremos o risco de não conseguirmos importar os produtos necessários para nossa economia. E as reformas podem não passar. Além disso, o Executivo, o Legislativo e o Judiciários mostram grande dose de irresponsabilidade, o que piora ainda mais o que já está muito ruim.

Diante da nova realidade é difícil ficar otimista. Ainda mais quando o setor analisado é uma atividade de retaguarda, que depende do aquecimento da economia para colocar seus produtos. 2020 será bem duro para o setor de seguros.

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