Cooperativas de seguros?
O tema não é novo, mas durante bastante tempo andou fora das manchetes. Agora voltou. Será que existem cooperativas de seguros? Será que essas ditas “empresas” conseguem realmente vender mais barato do que as seguradoras? Há mágica por trás delas? Há ganância atrás das seguradoras?
O leigo fica confuso e é razoável que isso aconteça. O contrato de seguro é muito pouco conhecido, inclusive no meio jurídico. Isso faz com que as pessoas imaginem até a existência de caixas pretas destinadas a enganar o segurado, quando, de verdade, não é isso o que acontece.
Se eu coloco a mão no fogo por todas as seguradoras? Não, não coloco, até porque não conheço todas as seguradoras, nem suas políticas de aceitação de risco e pagamento de indenização.
Mas eu coloco a mão no fogo pelo instituto do seguro e pelo mercado como um todo. O setor de seguros brasileiro é sério, responsável, tecnicamente preparado, eficiente, rápido e confiável.
Acontecem erros e falhas? Com certeza. Acontecem ações de má-fé, dolosas, na acepção exata do termo? Com certeza. De todos os lados. Existem pessoas pouco corretas em seguradoras, corretoras de seguros, resseguradoras e mesmo entre os funcionários dos órgãos encarregados da fiscalização da atividade. Da mesma forma que existem segurados pouco sérios, que tentam levar vantagem de todas as formas, fazendo com que a fraude tenha que ser precificada em todos os seguros, em detrimento do bom segurado que termina pagando uma conta à qual não deu causa.
Será que o seguro no Brasil é caro? Dependendo do ponto de vista é muito caro. Parte importante da população não tem qualquer tipo de seguro, não porque seja contra o instituto ou seus benefícios, mas porque nunca ouviu falar em seguro, exceto em novelas e filmes, e muito menos na possibilidade de vir a contratar uma apólice, por mais simples que seja. Uma parcela ainda está fora da chamada economia formal. Quer dizer, se mal tem dinheiro para suas necessidades básicas de sobrevivência, imagine para contratar um seguro!
Vários milhões de brasileiros, ao longo dos últimos anos, entraram na economia formal e até passaram a ser chamados de classe média, mas nunca se viram diante de um contrato como o seguro, o que dificulta a compreensão do alcance de seus benefícios e, consequentemente, de sua contratação.
Para estes, o seguro é muito caro e, apesar de distante, os planos de saúde privados, por exemplo, estão entre seus sonhos de consumo.
Outros, em função da crise, estão com dificuldades para honrar todos os compromissos assumidos. Para eles, também, o seguro ficou caro. E tem aqueles que sempre buscam levar vantagem, da mesma forma que existem seguros que realmente são caros.
Nesta seara é fácil uma hipotética “cooperativa de seguros” prosperar. Num país onde se roubam quase meio milhão de veículos por ano; onde morrem mais de 60 mil pessoas em acidentes de trânsito; onde as batidas e a imprudência são parte da rotina dos motoristas, oferecer um “seguro” mais barato é o maná caindo do céu.
Qual o segredo? As cooperativas não são seguradoras, não respeitam as regras fundamentais do mutualismo, não têm reservas técnicas, nem fazem o diferimento do faturamento. Ao contrário, elas funcionam em regime de caixa. Entrou, saiu, se sobrar é lucro. Tanto faz o que vai acontecer no futuro.
O brasileiro adora uma “pirâmide da felicidade”. Desde que você esteja no começo da fila, o negócio é ótimo. Já os últimos, estes só vão morrer com o mico. As cooperativas de seguros, da forma como operam, são correntes da felicidade disfarçadas. Em algum momento alguém vai ficar sem receber a indenização. E aí não tem para quem reclamar.
Não há nada que impeça o funcionamento seguro e correto de cooperativas de seguros. Em verdade, as “mútuas” que proliferam pelo mundo são exatamente isso. Mas com certeza as cooperativas em ação no Brasil não têm qualquer semelhança com elas. Se você faz seguro é porque você deseja proteger seu bem e paga para isso. Pense bem se vale a pena correr o risco de pagar para proteger e, na hora do vamos ver, descobrir que não vai receber.
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