Carnaval e seguro
Originalmente publicado no jornal O Estado de S.Paulo
por Antonio Penteado Mendonça
Agora é carnaval, a grande festa que faz o brasileiro esquecer que o mundo pode ser cinza, que a dor existe, que a festa nem sempre é nossa e que a Alemanha, em plena Copa do Mundo brasileira, emplacou sete a um na seleção. Tanto faz, agora é carnaval. Hora de esquecer o ano passado, com tudo de ruim e negativo que cresceu ao longo dele. Hora de encontrar a felicidade e soltar o grito preso na alma, a favor ou contra.
Quatro dias de folia, de norte a sul do país. Milhões de pessoas correndo atrás do trio elétrico, na frente dos blocos, fugindo da polícia. Samba, frevo, marchinhas, blocos, carnaval de rua, de salão, de todo jeito, porque nestes dias tudo é permitido para dar força para o depois, quando a ressaca passar e a quarta feira de cinzas amanhecer mais cinza do que nunca, sem pílula mágica para curar o porre.
Tem também quem aproveite os feriados para não fazer nada, ou descansar, na beira de um rio, na praia, na montanha, em qualquer lugar onde a música não chegue e o carnaval não vá além de um leve lembrança que abriu a possibilidade do descanso.
Cada um sabe de si, por isso, quem sou eu para dizer o que está certo ou errado? Não me compete dar palpite na vida dos outros. Então fico no meu canto, e uso a coluna para lembrar que no carnaval praticamente todos os tipos de acidentes aumentam. Nada feito de propósito, mas que pode ter consequências muito sérias na vida de centenas de pessoas.
Esta curva não é exclusividade do carnaval, mas durante os quatro dias de Momo ela se acentua porque a ideia é soltar as amarras e relaxar, duas coisas deliciosas de serem feitas, mas que, pela própria natureza, aumentam o risco da ocorrência de acidentes, alguns completamente imprevisíveis, outros mais lógicos.
No primeiro grupo, não há como saber se algum bêbado, dirigindo em alta velocidade, vai bater no seu carro na próxima esquina ou vai atropelar alguém em cima da faixa de pedestres. Não há o que fazer para evitar o acidente, mas ele pode ter resultado dramático.
No segundo grupo, é fácil imaginar que alguém não habituado com mar e que nunca pilotou uma moto aquática está mais sujeito a sofrer um acidente do que quem faz isso todo final de semana.
E por aí vamos, numa longa série de eventos que podem causar danos, na festa ou fora dela. Como se proteger? Não tenho a resposta. Na medida em que nem ficar dentro de casa pode ser a solução, porque nessa época do ano as enchentes e tempestades de verão chegam com força, tudo pode acontecer, com ou sem a colaboração da eventual vítima.
É claro que as seguradoras, por conta disso, acusam o aumento dos sinistros. Acontecem no período mais acidentes de trânsito, acidentes pessoais, danos patrimoniais e danos de responsabilidade civil do que na maioria dos outros dias do ano.
Esses impactos não têm o condão de balançar a saúde de nenhuma seguradora. Não é por causa deles que elas sofrerão abalos capazes de comprometer sua capacidade de pagar sinistros ou fazer frente aos demais compromissos. As companhias de seguros são obrigadas a manter uma série de reservas justamente para poder honrar seus compromissos. Com os recursos provisionados nessas reservas, somados a estatísticas bastante precisas e a cálculos sofisticados, as seguradoras conseguem dimensionar sua exposição aos eventos que geram indenizações com bastante precisão. Não só no carnaval e outros feriados, mas pelo ano todo.
Além disso, quatro dias é um espaço de tempo insuficiente para que a soma de todas as indenizações atinja um patamar tão elevado. E se por acaso isso acontecer, as seguradoras têm ao seu dispor contratos de resseguros que protegem sua atuação, mesmo frente ao mais adverso dos cenários.
Cenário que poderia se materializar num grande evento de origem natural, com força destrutiva para gerar bilhões de reais em indenizações. Neste caso, a falta de tradição do brasileiro em fazer seguros seria sua grande aliada. Como a maioria das pessoas e do patrimônio nacional não são segurados, as indenizações seriam irrisórias diante das perdas.
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