Capitalização
Originalmente publicado no jornal Sindseg SP.
Entre os produtos comercializados pelo setor de seguros, poucos estão tendo a demanda dos planos de capitalização. No começo do ano, conversando com um dos principais executivos das empresas de capitalização, ele me disse que o segredo deste crescimento era o sorteio.
A poupança era o prêmio de consolação. Se o cidadão não fosse sorteado, se vingava do plano, resgatando a parte do dinheiro aplicada no programa de capitalização, depois de um tempo pré-estabelecido. O que fazia a diferença era a possibilidade de ganhar uma bolada, a loteria que atrai o brasileiro médio como açúcar chama formiga.
Além disso, o preço do plano de capitalização é baixo e o titular normalmente concorre a vários sorteios, ao contrário do que acontece com a loteria federal, onde o bilhete vale uma única vez.
Essa soma de vantagens, aos olhos do brasileiro, faz do plano de capitalização um produto mais interessante do que a caderneta de poupança, que, além de tudo, com a queda dos juros, passou a pagar uma remuneração que o investidor considera ridícula.
Então, com o juro no menor patamar de sua história recente, tinha lógica o brasileiro preferir uma loteria a um investimento com retorno certo. Ainda mais se esta loteria tivesse como particularidade devolver parte do dinheiro pago por ela se o bilhete não fosse sorteado.
Mas os juros estão novamente em alta e os planos de capitalização continuam vendendo bem. De acordo com os executivos com quem conversei, tão bem como quando o juro estava lá embaixo. E a explicação é a mesma: o brasileiro gosta de uma loteria e gosta mais ainda de ser esperto, de levar vantagem.
É como ele se sente quando, depois de não ter sido sorteado em nenhum sorteio, ele recebe parte do dinheiro de volta. Ganhar, não ganhou, mas levou vantagem, recebendo parte do investimento acrescido de juros e correção monetária.
Cada ser humano é único. Não existem duas pessoas iguais. Nem os gêmeos tem essa capacidade.
Por mais parecidos que sejam fisicamente, o interior de um é completamente diferente do outro, o que os faz seres distintos, com ações e reações próprias e intransferíveis, fruto da personalidade, do intangível, da inteligência e da capacidade de cada um se valer da sua.
Diz o ditado que chora menos quem pode mais.
É verdade e a máxima se aplica aos planos de capitalização. Quando o investidor do plano recebe parte do investimento de volta, ele se sente poderoso. E, desde que fez uma vez, por que não outra? Vai que dessa vez ele ganha. E depois outra, e outra, e outra, sucessivamente numa disputa em que o plano, se estiver bem calculado, não perde nunca.
Mas os planos de capitalização têm outras finalidades. A primeira, e conceitualmente a mais importante, é que ele é uma eficiente ferramenta de ensino econômico-financeiro. Uma espécie de pré-primário, onde o investidor tem seu primeiro contato com conceitos como poupança, repartição, mutualismo, juros, etc.
Dada sua simplicidade, os planos de capitalização permitem ao investidor entender os mecanismos que levam a criar uma poupança forçada, pré-definida e de fácil compreensão.
Além dela, outra capacidade dos planos de capitalização é serem ferramentas altamente eficientes para campanhas de propaganda e marketing. Eles facilitam a vida do responsável, viabilizando os sorteios destinados a atrair e fidelizar os potenciais clientes.
Finalmente, a mais recente utilização dos planos de capitalização tem sido como garantidores dos contratos de locação, substituindo os fiadores e o seguro fiança, invariavelmente, em condições de igualdade, ou mesmo mais interessantes, dado os sorteios poderem ser feitos em nome do inquilino.
Com mais de cem anos de existência, os planos de capitalização, inventados na França, ainda no século 19, encontraram no Brasil o campo fértil para se desenvolverem.
E ao longo das décadas eles têm ocupado seu espaço, com números bastante positivos.
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