Vandalismo
Originalmente publicado no jornal Sindseg SP
por Antonio Penteado Mendonça
De junho para cá as ruas brasileiras se transformaram em palcos, tomadas por milhares de pessoas inicialmente dispostas a, espontaneamente, mostrar sua insatisfação com os rumos do país. O primeiro grito foi contra o aumento das tarifas do transporte público em São Paulo. Aumento, de acordo com vivido político, feito no momento equivocado. Seja como for, o aumento das tarifas foi o gatilho que levou pessoas de todas as idades e condições econômicas a saírem de casa para, pacificamente, protestarem contra a administração pública e os desmandos da política.
Com o tempo, as reinvindicações ganharam cara e o povo levou para as ruas suas queixas quanto aos serviços de saúde, educação, transporte, saneamento básico e segurança, além de sua indignação com os desmandos e a corrupção. Os protestos eram pacíficos e compostos por gente de todas as idades, desde crianças até aposentados.
Todos foram pegos de surpresa. A Presidente, sem ter o que dizer, aconselhada por seus marqueteiros, propôs um absurdo plebiscito, depois importou médicos e criou o sucesso do Pré-sal, distribuindo bilhões de reais que ainda não existem como se fosse dinheiro em caixa.
Mas se a Presidente jogou mais azeite na fervura do samba do crioulo doido, os governadores e prefeitos simplesmente não souberam o que fazer e começaram a se curvar ao poder da bagunça, esquecendo que sua função como governantes não é mandar a polícia não reprimir manifestações, mas manter a ordem pública.
Rapidamente os movimentos foram politizados ou tomados de assalto por gente interessada no caos. As razões são as mais variadas, desde interesses corporativos até interesses políticos, patrocinados por gente de todas as origens, dos partidos políticos ao crime organizado.
Daí pra frente a situação se deteriorou. Passeatas pacíficas foram sistematicamente invadidas por gente de cara coberta, interessada em quebrar e depredar, sem se importar com as consequências.
Como o governo até agora não soube se posicionar com a firmeza necessária para enfrentar os atos de vandalismo, separando os manifestantes dos baderneiros, grupelhos de todos os tamanhos se acharam no direito de também se manifestarem, causando prejuízos sérios e atrapalhando a vida regular da população, principalmente do Rio de Janeiro e São Paulo.
Vinte estudantes fecham a entrada da USP, quarenta hipotéticos moradores da região colocam fogo em pneus para fechar o Rodoanel, outros saqueiam os caminhões parados nos congestionamentos, outros assaltam os passageiros de ônibus e carros, outros ateiam fogo em veículos e por aí vamos numa dança de horrores que cresce de toada, já, faz tempo, sem o amparo moral das legítimas manifestações da população.
O setor de seguros detesta situações como esta. A razão é simples: além de todas as críticas contra a baderna, a conta é cara.Por menos seguros que o Brasil contrate, parte da população e das empresas tem apólices que, de alguma forma, serão acionadas em função dessas passeatas.
As seguradoras, de junho para cá, pagaram centenas de indenizações decorrentes dos quebra-quebras. É verdade que parte das apólices tem exclusão expressa para este tipo de evento e que esta particularidade reduz a exposição do setor de seguros em relação a prejuízos de vulto.
Mas há outro problema que pode tomar proporções delicadas. Com o aumento dos eventos e dos prejuízos, sem que surja uma ação clara do governo, é normal as seguradoras se retraírem na oferta de cobertura.
Se o negócio delas é proteger a sociedade, esta proteção fica limitada ao razoável, não sendo lógico exigir delas aceitar propostas que, pela natureza e localização do negócio, podem ser tidas como perdas certas.
Ora, como explicar ao segurado que o seu maior risco, neste momento, não será segurado?
Se a situação é ruim para a nação brasileira, por tudo o que está envolvido, é ainda pior para as seguradoras.
Voltar à listagem