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Crônicas & Artigos

em 09/12/13

Como mudar?

Originalmente publicado no jornal O Estado de S.Paulo
por Antonio Penteado Mendonça

O seguro de automóveis é a maior carteira de seguros do Brasil. Com uma participação de mais de 30% no total do faturamento do setor, faz muitos anos que é o pivô do mercado, o produto que puxa boa parte das seguradoras, ainda que operando com margem apertada.

Nada de novo debaixo do sol. Desde meados da década de 1980 que é assim. O seguro de veículos foi o primeiro produto de massa e até hoje responde por mais de um terço do faturamento. O curioso é que o total de veículos segurados representa um percentual pequeno da frota nacional. Ou seja, em teoria, o seguro de automóveis poderia crescer muito, multiplicando por três o total de veículos segurados. Em números, o Brasil tem uma frota próxima de 80 milhões de veículos, dos quais no máximo 25% estão segurados. Ou seja, os 20 milhões de seguros em vigor poderiam se transformar em 50 milhões rapidamente. Por que isso não acontece? A resposta é simples, muito embora seja composta por várias premissas.

Indo ao ponto: a razão para apenas 25% da frota nacional ser segurada é custo/benefício. O seguro de veículos brasileiro, em função de sua estrutura, é caro, principalmente quando se trata de carros usados, com mais de três anos de idade.

Com altíssima sinistralidade decorrente de roubo e furto, aumentada pelas colisões, que têm crescido com o aumento da frota, não há como os veículos zero quilômetros, a maioria dos quais é financiada, não serem segurados. Os agentes financeiros exigem o seguro para garantir receber a quantia financiada em caso de sinistro e o proprietário que adquire o veículo à vista também faz o seguro porque o prejuízo equivalente ao preço de um carro, no caso de sua perda, afeta o bolso de qualquer um.

Mas esta regra deixa de ser lógica quando o carro atinge uma determinada idade. A relação valor do bem/preço do seguro empurra o proprietário a aceitar o risco de perder o bem e economizar o seguro.

Como no Brasil o seguro de responsabilidade civil não é obrigatório, sendo esta lacuna suprida pelo DPVAT, o proprietário, ao contrário do que acontece na Europa, não contrata garantia nenhuma, exceto o seguro obrigatório.

Faz tempo que a discussão sobre a forma de aumentar o número de veículos segurados é parte das discussões entre todos os players do setor. Quanto ao caminho, há unanimidade: é preciso desenvolver um seguro mais barato. A questão é como fazer isso, sem violar a lei ou prejudicar o segurado ou ferir interesses.

A questão é complexa e passa pelas montadoras, seguradoras, fabricantes de autopeças, oficinas de reparos, distribuidores de peças, fabricantes de tinta, corretores de seguros, etc. O eterno esquecido continua sendo o segurado, que, por não ter uma entidade representativa, acaba não sendo diretamente ouvido.

Como é ele quem paga a conta e esta, depois de um tempo de uso do veículo, fica cara, o segurado deixa de fazer o seguro, o que não quer dizer que ele não o fizesse se tivesse uma alternativa palatável. Afinal, ele sabe que veículos usados também são roubados, da mesma forma que sabe que uma colisão pode pesar no seu bolso, ainda mais se ele for o culpado e o outro carro for novo e de um modelo caro.

As conversas avançam, mas as diferenças de posições impedem que o preço do seguro caia. As montadoras querem que os reparos sejam feitos com peças originais, que não diferem muito das peças genuínas, que também podem não ter muita diferença em relação ao chamado mercado paralelo. Acontece que, mesmo as peças não sendo muito diferentes, o preço faz toda a diferença. E a diferença fica maior ainda quando se tem também peças usadas que poderiam servir para substituir peças danificadas. As seguradoras gostariam de poder usar as alternativas às peças originais. As oficinas de reparos também. Já as montadoras, a rede de concessionárias e as fabricantes de peças originais, não. E, além destes, há outros interesse em jogo. Enquanto a maioria não se convencer de que é melhor somar, o seguro de veículos continuará caro, prejudicando, acima de todos, a sociedade brasileira.

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