Ameaças que encarecem os seguros
Originalmente publicado no jornal O Estado de S.Paulo
por Antonio Penteado Mendonça
Como diria um chinês, o Brasil atravessa um momento interessante. O problema dos tempos interessantes é que os riscos crescem e fica mais difícil administrar a nação. É o que vamos vendo quase que diariamente.
As manifestações de junho pegaram as autoridades brasileiras de surpresa e assustaram a comunidade internacional. Para quem acha que não, no primeiro caso basta ver a série de propostas sem qualquer base legal apresentadas pela Presidência da República e, no segundo, o seguro da exposição do renascimento italiano que veio para São Paulo ficou mais caro em função dos protestos.
Mas o quadro de instabilidade vai além: o real foi a moeda mais afetada pela valorização do dólar. A inflação dos preços livres está acima do limite máximo previsto para o ano e a inflação geral não está no mesmo patamar em função do achatamento dos reajustes dos preços controlados.
O preço da gasolina, por exemplo, está gerando um prejuízo mensal de um bilhão de reais para a Petrobrás e causando um estrago devastador nos produtores de álcool, que estão à beira da insolvência pela falta de competitividade gerada pelo preço artificial da gasolina.
Por conta do quadro, o Banco Central foi obrigado a interromper a queda dos juros e retomar uma política ortodoxa, aumentando a remuneração básica dos títulos do governo. De outro lado, a decisão do Executivo de interferir na política econômica tirou credibilidade do Banco Central, que deixou evidente que hoje não é tão independente quanto o foi nos dois governos anteriores. Com um agravante: a Presidente não conhece economia, o que faz com que uma série de decisões impostas de cima para baixo não surtam os efeitos desejados, causando a mais absoluta perplexidade nas autoridades encarregadas da área econômica.
Mas a situação piora também no campo político. Imaginar que o país não paga a conta de uma série de medidas adotadas em função do ranço ideológico que permeia o PT é acreditar em história da carochinha. E mesmo que os marqueteiros de plantão consigam convencer a população de baixa renda do acerto das medidas, a classe média, com a explosão dos protestos em junho passado, mostrou claramente que não aceita mais o que tentam lhe impor goela abaixo.
Ainda que assim não fosse, a comunidade internacional está atenta ao que se passa no Brasil e precifica cada evento ou cada tomada de decisão levando em conta os riscos que, faz tempo, ela vê crescerem. A começar pela decisão do Supremo Tribunal Federal de rever a condenação de réus no processo do mensalão, seguida pela impunidade, corrupção, deterioração das políticas de saúde pública, de combate a epidemias como a dengue, baixo nível de ensino, etc.
Ações como dar asilo a um condenado por assassinato pela Suprema Corte italiana; não reagir e até justificar a invasão por tanques das instalações da Petrobrás na Bolívia; colocar a Venezuela de Hugo Chaves no Mercosul; permitir a desapropriação de empresas brasileiras pelo governo argentino; apoiar o Irã; importar médicos de Cuba; e adiar a visita da Presidente aos Estados Unidos, além dos quebra-quebras estão sendo avaliadas, de acordo com a visão da comunidade internacional, de forma oposta aos interesses do país.
Como se não bastasse, a atividade industrial cai mês a mês. A febre de consumo que manteve a economia aquecida está arrefecendo pelo medo de desemprego e pelo alto endividamento das famílias. A inadimplência está subindo. O setor de serviços começa a contratar menos. E os juros já estão outra vez entre os mais altos do mundo.
Os investimentos internacionais estão mais difíceis. As agências de rating começam a se sentir incomodadas. As grandes obras de infraestrutura estão atrasadas. O Pré-Sal está ameaçado pelo óleo e pelo gás de xisto. Não menos importante, as resseguradoras começam a amargar prejuízos em suas operações brasileiras e o Governo criou a Segurobrás.
Neste cenário, não tem como o setor não se preocupar. O risco é os preços subirem. Quem vai pagar a conta é o segurado
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