A inversão que custa caro
Originalmente publicado no jornal O Estado de S.Paulo.
por Antonio Penteado Mendonça
Faz pouco tempo, eu assisti numa rede social o filmezinho de uma entrevista feita por um repórter de TV com um motoqueiro completamente bêbado, que, dirigindo na contramão, bateu num carro e afirmava que a culpa pelo acidente era do outro motorista. É triste, mas este é o retrato da inversão absoluta da ordem das coisas num país chamado Brasil, depois de pouco mais de 12 anos de governo do PT.
A herança do Lula não é o Bolsa Família, nem o desenvolvimento social – estes não duraram mais que poucos anos. Foram destruídos pela incompetência, bandalheira, corrupção e nepotismo que são a marca registrada da turma que se apossou do poder e faz qualquer coisa para não sair de lá.
A herança do Lula é a quebra de todos os referenciais éticos da nação. A falta de respeito à lei e aos princípios morais mais elementares da vida em sociedade. De acordo com o que o Brasil viu e vivenciou nos últimos anos, especialmente depois do Mensalão, mentir, roubar, levar vantagem de qualquer forma, desrespeitar a lei, tomar do outro o que é do outro, negociar apoio comprando partidos inteiros se tornou a regra e isso, lamentavelmente, se espalhou para o cotidiano da sociedade.
A prova inequívoca é a forma como boa parte dos motoristas dirige. Tanto faz se tem Código de Trânsito, se tem regras, cada um faz o que quer e o resto que se dane. A tranquilidade com que entram à esquerda, vindo pela pista da direita; que interrompem o trânsito, parando a pista do meio porque desejam fazer uma conversão; com que não respeitam o semáforo vermelho, as faixas de pedestres ou a velocidade máxima explicam a tragédia que se abateu sobre a nação e que vai levar décadas para ser consertada.
Neste cenário de terra arrasada, a crise econômica não é causa, mas apenas uma de suas muitas consequências, todas negativas. Na mesma linha, temos professores agredidos nas escolas, bandidos que metralham postos policiais, traficantes que aparecem como grandes benfeitores do povo e políticos desonestos.
Este é o ponto. O dinheiro roubado que faz a felicidade de uns poucos amigos do rei é tirado da saúde pública e da educação, as únicas vias pelas quais o brasileiro terá chance de entrar no primeiro mundo. O resultado são os milhões de analfabetos funcionais, que colocam o Brasil nas últimas posições da educação mundial, os incompetentes que fazem mal o que fazem, além dos hospitais e postos de saúde sucateados, com doenças como a hanseníase e dengue fora de controle.
Esse quadro dantesco afeta todos os brasileiros, a maioria dos quais composta por gente honesta, trabalhadora, invariavelmente roubada e enganada pelo canto da sereia de marqueteiros que transformam a política em algo muito próximo de um detergente ou sabão de coco.
E afeta diretamente algumas atividades econômicas, entre elas, o setor de seguros, que tem na boa-fé a base do negócio. Quando a boa-fé deixa de ser requisito para o funcionamento da sociedade, a fraude aumenta, os espertos levam vantagem em cima dos honestos e, o que é mais grave, muitas vezes inclusive com o beneplácito do Poder Judiciário, que, sem perceber a inversão de valores envolvida, condena, por exemplo, uma seguradora a pagar os danos decorrentes de um acidente causado por um motorista alcoolizado.
Quem paga essa conta não é a seguradora. Da mesma forma que quem paga o que não está coberto por um plano de saúde privado não é a operadora. Quem paga a conta são os segurados. A seguradora não nega o pagamento que lhe é imposto por força de uma decisão judicial. Ela cumpre a ordem e, no final do exercício, verifica o desempenho de suas carteiras, levando em conta as indenizações pagas, seus custos comerciais, administrativos e os impostos. Se o faturamento não for suficiente, ela faz as correções necessárias, aumentando o preço de suas apólices.
Quando a regra é levar vantagem, os bons pagam pelos ruins. É isso que o Brasil vive hoje e a conta está cara. Graças a Deus, a sociedade parece que enjoou, mas, até se colocar ordem, muita gente vai pagar o que não deve.
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