Um Nobel fora da curva e justo

O Prêmio Nobel de Literatura de 2016 fugiu da curva tradicional. Ao premiar Bob Dylan, com certeza, feriu a sensibilidade de muita gente que não considera música literatura, ainda que algumas letras tenham versos da mais alta qualidade poética.

Se algum compositor, ou poeta, merece o prêmio, ele é Bob Dylan. Suas músicas estão aí, há mais de 50 anos, com letras impressionantes até os dias de hoje.

Eu gosto de Bob Dylan desde a primeira vez que ouvi “Like a Rolling Stone” e “Blowin’ in the Wind”. Me lembro como se fosse hoje de um grupo de jovens na casa dos pais do jornalista Cesar Giobbi, no Guarujá da década de 1960, ouvindo “Like a Rolling Stone”. É uma lembrança boa, de um tempo em que a felicidade era fácil e a vida rolava no ritmo das músicas de Bob Dylan, Beatles, Monkeys, Beach Boys e outros monstros, como Frank Sinatra, Ray Charles e Ottis Reding, quando era para dançar junto.

Bob Dylan sempre fez parte das minhas seleções. É raro não ter músicas suas nos meus carros, desde 1971, quando tinha um gravador de carretel, chamado Joãozinho, montado pelo Armando Salles de Oliveira e instalado no meu primeiro carro, um Opala Especial 2500, comprado na Zona Sul, a concessionária do pai do meu amigo Zé Cássio.

Quantas noites fui para a casa do Sérgio Pascowitch, gravar os discos que ele recebia em primeira mão ou que integravam sua maravilhosa discoteca? Entre eles, Bob Dylan, Simon & Garfunkel e Moody Blues.

Lembro especificamente a noite em que gravamos “Pat Garrett & Billy the Kid”, com a fantástica “Knokin’ on Heavens Door”. Depois, assistir ao filme conhecendo as músicas como que criou uma certa cumplicidade.

Se eu fosse eleitor do Prêmio Nobel de Literatura, meu voto também seria de Bob Dylan. Por mim e pelos milhões que sua música marcou.