Os nomes sem as datas
A Prefeitura decidiu que é hora de organizar visitas aos cemitérios da cidade. Cemitérios que vão sendo saqueados numa velocidade impressionante por bandidos que não respeitam os mortos, nem as famílias dos mortos, e que sabem que a Prefeitura não coloca guardas em número suficiente para garantir a segurança e a integridade da morada dos mortos.
Quem sabe, com as visitas, a Prefeitura queira desmanchar a feia impressão causada pelos assaltos brutais cometidos no Cemitério da Consolação, o mais antigo da cidade e onde estão verdadeiras obras de arte, realizadas por grandes artistas, a pedido das famílias proprietárias dos túmulos.
Falar no furto das placas de metal com os nomes, datas de nascimento e morte das pessoas enterradas é chover no molhado. Os ladrões já as arrancaram – e continuam arrancando – de centenas de jazigos, sem preocupação maior em serem presos. Eles sabem que não acontecerá nada com eles.
Se os furtos se limitassem às placas, já seria uma tragédia moral inimaginável, que, todavia, dá a medida da deterioração ética da sociedade brasileira. Quando não há respeito pelos próprios mortos, não há respeito pelos vivos. Por isso, encomendar um assassinato, no Brasil de hoje, custa menos de 5 mil reais.
O túmulo de minha família está entre os que foram saqueados pelos ladrões que fazem o que querem no Cemitério da Consolação. Já escrevi sobre isso.
Agora quero explicar porque as placas de granito que substituíram as de metal estão gravadas apenas com os nomes, sem as datas de nascimento e morte dos meus parentes lá enterrados. É para deixar claro que o túmulo foi assaltado e que a prefeitura não fez nada para impedir.
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