Certas manhãs especiais
Muitos anos atrás, o José Nêumanne Pinto me disse que gostava das minhas crônicas que falavam da Praça do Pôr do Sol, de manhã cedo.
Ao longo destes anos, a Praça mudou de jeito. Ou melhor, principalmente o horizonte da praça mudou, completamente. Antes, para qualquer lado que se olhasse, a vista ia longe, atravessava a poluição para se perder além dos limites da cidade.
Isso mudou. Quem olhar para a esquerda, sentado no alto da praça, verá um horizonte muito mais curto, fechado por uma barreira de prédios que até há pouco tempo não existiam.
É verdade, a praça também mudou. Está mais suja, mais maltratada, em sintonia com o que acontece no resto de São Paulo.
Se o Centro é sujo e parece uma cloaca, com mijo e fezes empesteando o ar da região, por que a Praça do Pôr do Sol não deveria estar malcuidada e suja? Seria uma injustiça com ela, que estaria perdendo a chance de democraticamente ficar feia.
Mas, mesmo maltratada, a praça vale a visita. Eu sei porque é meu caminho da roça. Passo regularmente por ela. Só recomendo cuidado com os marronzinhos que agem no pedaço. Já fui multado por estacionar em lugar permitido e com placa sinalizando. É verdade que, no recurso apresentado com fotos do local, a multa foi revogada, mas, de qualquer forma, cuidado, se não for por nada, para evitar a amolação.
Tem certas manhãs que eu passo pela praça e tenho vontade de parar e ficar olhando o dia. A cor do céu, a densidade do ar, a poluição, a natureza se espalhando na grama e nas árvores plantadas na encosta, tudo conspira para criar magia, beleza, encantamento.
São momentos únicos que nos fazem esquecer o duro e o feio, que nos dão alento, que nos falam de esperança e beleza. É muito bom.
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