O primeiro Sabiá
Quatro e meia da manhã de uma terça feira não é hora de gente civilizada estar acordada. Mas eu estava. Pode ser que eu não seja civilizado, mas às quatro e meia da manhã eu tinha acordado e estava virando de um lado para o outro, rezando para o sono voltar.
Tem quem diga que é da idade, que depois que começamos a envelhecer o sono se despede de nós e vai embora, lentamente, cada noite um pouco menos. Ninguém me conta como é o final, mas fico pensando se chega uma hora em que paramos de dormir e aí a alternativa é remédio tarja preta. Não sei, ainda não cheguei lá.
O fato é que na madrugada da terça feira eu estava acordado. Era um pouco mais cedo que o normal – em geral acordo entre cinco e cinco e meia –, mas estava acordado e não tinha o que fazer.
Tem gente que não gosta de acordar de madrugada porque é a hora em que os fantasmas aparecem. É o momento do acerto de contas. A hora que não tem jeito, nem lugar para se esconder, a alma está aberta e o mundo pega pesado, resgatando situações que seria melhor não serem lembradas.
Comigo isso não costuma acontecer. Eu acordo e fico bem comigo mesmo. Minha companhia não me assusta. Então eu penso na vida, no que tenho que fazer, no que está certo e no que está errado e como tentar acertar as coisas, tocar o barco e enfrentar o que vem pela frente.
Nessa madrugada eu estava pensando nos Jogos Olímpicos, nas reações dos atletas, no comprometimento com as cores do país, com a capacidade de superação que leva certas pessoas a limites que ela não conhecia.
Foi aí que eu ouvi os primeiros pios. Às quatro e meia da manhã um sabiá começou a piar, abrindo a sessão de acasalamento de 2016. O que eu queria saber é se no mato, sem luz elétrica, ele começaria tão cedo.
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