Os Ipês seguem em frente
Com crise, sem crise, com tempo feio, sem tempo feio, os ipês seguem em frente na sua marcha irrefreável rumo à florada que enfeita a cidade, mas, antes de tudo, garante a perpetuação da espécie.
Nós, humanos, somos egoístas. Achamos que a florada dos ipês é apenas para nos deixar mais contentes, apesar de vivermos numa cidade esburacada e suja, transformada em caça-níqueis por uma prefeitura que não gosta dela, mas que deseja arrecadar infinitamente, eternamente, até depois do final do universo, onde se encontram as paralelas.
Para os ipês os radares são indiferentes, no máximo surgem como um novo tipo de árvore, fria e sem alma, com um brilho próprio ininteligível, como se disparasse raios.
Os buracos também são indiferentes, ou melhor, dependendo do tamanho e do lugar, são vistos como futuras covas, interessantes para novos ipezinhos se desenvolverem e, em 100 anos, se transformarem em simpáticas árvores, com tronco sólido e galhos frondosos que, na época da florada, perdem as folhas para se cobrirem de flores.
Até as faixas de bicicleta não perturbam a paz dos ipês. No começo, o vermelho do urucum boliviano aplicado no asfalto preocupou algumas árvores, que viram na tinta espalhada no chão uma tentativa de diminuir o impacto de sua florada, por causa de outra florada não identificada, mas com certeza, já combinada com a prefeitura.
Para os ipês é indiferente se a presidenta que foi estudanta cometeu crime sério ou não, como, até agora, tem sido indiferente o desemprego de 12 milhões de brasileiros.
É que os ipês são árvores narcisistas, que só olham o próprio umbigo, e isso não os deixa perceber as ameaças da crise. Desemprego pode significar até cortarem as árvores. E isso seria péssimo para eles.
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