A distribuidora de água peita o dono
Há algo de errado no reino imaginário. O governante disse que a crise da água ficou no passado, que, nos próximos anos, está tudo resolvido, que o povo não sentirá sede de novo, pelo menos no curto prazo, e que o racionamento, que oficialmente não tinha, acabou.
Queriam soltar foguete, rojão de vara, busca-pé, mas tinha um pequeno detalhe: esqueceram de contar para a distribuidora de água. Isso mesmo, não contaram para a responsável pela água que o governante deu por encerrado o racionamento e que a prova disso – todos esperavam – seria a água farta, jorrando das torneiras. Na prática, não é isso que acontece. Pelo menos em certas partes do reino. A falta d’água é real e inferniza o cidadão de manhã cedo, especialmente nos finais de semana.
É uma vergonha, mas não tem água. Quem depende da água oficial – que tem cheiro, cor e gosto – fica na mão, justamente na hora de lavar a louça do café da manhã e começar o dia.
Há quem diga que é de propósito. Que a distribuidora de água estaria boicotando o governante por questões gôngoro filosóficas ainda não completamente claras, mas suficientes para levar ao corte parcial da água e assim desmentir o governo.
Quem depende do governante não deveria desmentir o governante, nem deixá-lo vendido. Não é inteligente. Mas é isso que a distribuidora de água do reino imaginário faz cada vez que, de manhã cedo, dentro de uma regularidade irritante, corta a água de uma parte do reino.
Tem até quem diga que é ordem de S. Exa., o governante, em pessoa para recuperar o dinheiro perdido com a estiagem. Como quando o fornecimento de água é religado passa muito ar pelo relógio, a distribuidora de água, de verdade, está vendendo água e entregando ar. Em outras palavras, está tungando o consumidor.
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