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Crônicas & Artigos

em 10/02/16

Quarta-feira de cinzas

Normalmente, o Brasil começaria a funcionar hoje. Tradição antiga, a data do começo do ano não é primeiro de janeiro, é a quarta feira de cinzas. Para uso interno e externo, a vida no Brasil começa depois do carnaval.

Pelo menos sempre foi assim, só que este ano, não. O Brasil entrou acelerado em 2016. Como se o ano passado não tivesse acabado, desde o começo de janeiro, o país vem acelerado, ladeira abaixo, perdido no meio de uma grande crise.

Mas pra você, até meia hora atrás, isso não tinha a menor importância. Ainda era carnaval, com tudo de bom e maluco que os dias de Momo reservam para os mais atirados, os irresponsáveis de plantão, os que querem esquecer a vida e se jogam de cabeça na loucura dos quatro dias de carnaval.

É bom, é leve, é solto. Quer dizer, quase sempre, porque tem horas que não é bem assim e a vida pega pesado, bem no meio do carnaval.

Mas pra você o carnaval foi festa, loucura, esquecimento. Nestes dias, tanto fez se o emprego está ameaçado, se a grana tá curta, se muita gente está se dando mal.

Você saiu de casa com a firme intenção de fazer tudo o que tem direito para se divertir e esquecer que a vida nem sempre é uma festa. Que, em alguns momentos, pode ser triste e cinza e sem graça.

Não, o carnaval seria sua vingança. E foi. Faz tempo que você não se lembra de nada, só sabe que foi bom, tanto faz o quê.

Agora é que são elas. Pegar um ônibus e tocar pra casa. Cansado, sem camisa e sem dinheiro. Foi assalto? Você não se lembra. A última lembrança é o abraço de uma mulher loira, que chegou, beijou e sumiu. Ao que parece, levando com ela sua carteira, a grana e os cartões.

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