Atrás do próprio rabo
Se ficar o bicho come, se correr o bicho pega. E aí, o que fazer? Criar asas e voar? Mas se o filho de Ícaro quis chegar no sol e morreu quando suas asas derreteram e ele caiu!
Quem sou eu para voar alto. Mal e mal dou uns pulinhos, que parecem mais passos de dança do que tentativa de decolar. Guio caminhão, e mesmo assim com pouca areia. Imagine voar alto!
Não voo. E aí, se ficar o bicho come, se correr o bicho pega. Quem não tem cão fica no mato sem cachorro. Porque quem sai na chuva é para se queimar. Entre todas, não sobrou nenhuma e a verdade continua no fundo de uma garrafa ou outro lugar mais inusitado.
Como diria o poeta, “não sei quem sou; quem sou é quem me ignora e vive longe de mim”’.
Um xis-tártaro e um milkshake de chocolate podem matar a fome do corpo, mas não amortecem as inquietações do espírito. Essas necessitam muita paz. Paz que eu quero, mas não tenho, e por isso fica tudo meio torto, como pau dobrado pela insistência do vento.
Desculpe por eu amar tão mal. Queria ser diferente. Saber fazer carinho e contar histórias de fadas e heróis, mas a vida pega pesado, a gente envelhece e esquece como era fácil salvar o mundo, montado no Pégaso, voando pelo céu atrás dos jatos dos bandidos, carregados com bombas atômicas.
Do outro lado da cerca existem todas as possibilidades. Pena que não conseguimos passar. O Muro de Berlim não existe mais, mas nós construímos muros novos mais eficientes – não para não deixar sair, mas para não deixar o amor entrar.
Queria que minha vida fosse nossa. Mas ela é minha. E a sua é sua. E nós não nos entendemos. É que somos humanos.
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