Marcelo Vidigal
A morte tem um componente ininteligível, que faz o ser humano, de dois séculos para cá, temê-la reverencialmente, como algo negativo, que deve ser evitado, ainda que sendo certa e inadiável.
A morte pode ser uma solução ou não. Depende do caso e da pessoa, sair da vida pode ser o alívio, ou pode ser terrível.
Tanto faz se nossos antepassados lidavam melhor com ela, o fato concreto é que hoje pouca gente aceita a ideia de sair de cena, ainda mais se partir jovem.
Também tanto faz se não gostamos da ideia. Na hora certa, todos embarcam pra última viagem, querendo ou não. Dá medo? Provavelmente. Afinal, o novo destino é o desconhecido. Ninguém voltou para contar como é do outro lado. A ideia de fim, de término, de que não seremos mais nada, assusta, como assusta imaginar o céu e o inferno e que de repente poderemos estar neles.
A morte é uma das poucas certezas da vida. Se ela vem depois de uma vida bem vivida e boa, de forma inesperada e sem dor, pode ser vista como um prêmio. Deus é amigo de quem morre em paz ou sem perceber.
Marcelo de Camargo Vidigal morreu. Tenho certeza que era amigo de Deus e que fará falta pra sua Lucinha, os filhos, netos e bisnetos. Afinal, ele foi, antes de tudo, um homem bom, no sentido exato da palavra.
Com mais de 90 anos de idade, ao longo de sua vida, fez o bem, foi leal, correto, íntegro, bom chefe de família, bom profissional, amigo de seus amigos e profundamente religioso.
Por que uma crônica sobre a morte de um homem com mais de 90 anos? Porque a morte é sempre uma perda. E eu gostava dele. Marcelo Vidigal, grande amigo de meu pai, me ensinou muita coisa sobre a vida e como me portar da melhor forma possível diante dela.
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