Fusões e aquisições
Originalmente publicado no jornal SindSeg SP.
por Antonio Penteado Mendonça
O tema não é mais apenas nacional. As grandes seguradoras, especialmente norte-americanas, estão se mexendo e o resultado tem sido a fusão ou aquisição de companhias imensas, criando verdadeiros gigantes, capazes de redesenhar o mercado segurador em poucos anos.
Apenas como exemplo, a compra da Chubb pela ACE e os movimentos na área das operadoras de planos de saúde norte-americanas vão criando conglomerados com dezenas de bilhões de dólares de faturamento, centenas de bilhões de dólares em ativos e sinergias capazes de cortarem bilhões de dólares em custos.
Mas as fusões e aquisições vão além das seguradoras. Grandes corretoras estão se aliando e, de uma forma ou de outra, começam a se aproximar da casa da dezena de bilhões de dólares de faturamento anual.
Na origem do fenômeno não existe apenas uma causa, mas toda uma série de fatores, a começar pela enorme quantidade de dinheiro existente no mundo e pela baixa remuneração dos títulos da maioria dos governos confiáveis.
Além disso, a escala global das relações modernas faz com que cada vez mais seja necessária a criação de programas internacionais, coordenados por uma única empresa, para atender as necessidades dos grandes conglomerados empresariais.
Como se não bastasse, a Internet em algum momento vai se transformar num canal essencial para a comercialização dos produtos de seguros. Se até agora a explosão não ocorreu, não é porque o uso do canal esteja condenado ao fracasso ou que o peso do tema se resumirá ao estouro de uma biribinha.
Dentro do cenário internacional, o Brasil é uma pedra pequena, se bem que importante, pelo potencial de crescimento e pela remuneração dos ativos. Não é por outra razão que as principais seguradoras e resseguradoras ou já estão, ou estão se instalando no país.
Os mercados norte-americano, europeu e japonês estão saturados e muito perto do limite de crescimento. Neles, as empresas têm crescido quase que apenas vegetativamente e, em alguns países, as seguradoras de pessoas começam a enfrentar o problema seríssimo da diminuição da população.
Na contramão, surgem os BRICS e, entre eles, o Brasil se destaca pelo rápido desenvolvimento social, pelo enriquecimento da população e pela baixa capilaridade do setor de seguros.
Com as fusões e aquisições atingindo grandes companhias internacionais, o quadro brasileiro também tende a passar por mudanças profundas, pela redução do número de players, pela internacionalização do controle de parte importante da produção, pela adoção de soluções globalizadas e pela inserção do país num esquema muito maior do que o visto até aqui.
Não bastasse isso, os grandes conglomerados brasileiros também começam a se mover em direção ao ganho de escala ou à saída de setores pouco interessantes. O grande exemplo da saída ou da mudança de postura diante do mercado é o Banco Itaú, que se associou e transferiu parte de sua carteira para a Porto Seguro, vendeu a área de grandes riscos para a ACE e está negociando a venda de sua carteira de vida. De outro lado, Bradesco e Banco do Brasil investem no segmento. E várias seguradoras independentes estão sendo compradas pelos grupos internacionais e mudando a forma de atuação.
No campo do resseguro, após alguns anos complicados, as resseguradoras locais começam a ganhar dinheiro. Além disso, o Brasil tem tudo para se transformar no polo regional de resseguros da América Latina, o que é muito bom, especialmente para o Rio de Janeiro, onde parte destas companhias está instalada.
O carro chefe deste processo é o IRB Brasil Re, principal ressegurador local brasileiro, com participação expressiva no total de prêmios e mais expressiva ainda no lucro consolidado, e que deve passar pela peneira de um IPO que tem tudo para ser um sucesso. A única ameaça é o próprio governo brasileiro, que parece que está querendo mudar as regras do jogo sem combinar com os jogadores.
Seja como for, o Brasil deve ser afetado pelas fusões e aquisições nacionais e internacionais que chacoalham o setor de seguros e que levam necessariamente à concentração do mercado em poucas companhias cada vez maiores.
Se as mudanças serão boas ou não, ainda é cedo para dizer. A única certeza é que são irreversíveis.
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