Cemitérios
Alguns anos atrás, numa conversa de final de tarde, vendo o por do sol no deserto de Atacama, um sociólogo chileno me disse que a primeira coisa que ele visitava quando chegava numa cidade desconhecida era o cemitério. Achei curioso, mas a explicação tinha lógica. Segundo ele, a forma como cada comunidade trata seus mortos mostra como a comunidade trata seus vivos. E a melhor forma de se descobrir isso é visitando os cemitérios.
A conversa continuou e eu percebi que conhecia vários cemitérios de diferentes cidades, alguns por ir a enterros, outros por visitar, no Brasil e no exterior. Mais, me lembrei que em Paris e Buenos Aires os cemitérios são atrações turísticas. E que as catacumbas romanas, no fundo, também são cemitérios. E as pirâmides do Egito e o Taj Mahal são túmulos e que Westminster é uma abadia que também abriga mortos.
Em outras palavras, os mortos, o cuidado com os mortos e suas lembranças, são parte da vida. Desde a mais remota antiguidade, no limiar da civilização, o ser humano se destaca por cuidar de seus mortos. E a regra vale para todas as civilizações, da mais avançada à mais atrasada, da mais antiga à mais recente. Em todas há o cuidado com os que já partiram. Sendo que, em algumas, os antepassados são honrados em altares dentro da própria morada.
Minha família, tanto por parte de pai, como de mãe, está enterrada no cemitério da Consolação. Por isso eu visito esse cemitério e faço diferentes caminhos, olhando os túmulos, reparando em suas formas, nos nomes das pessoas enterradas, no cuidado e no abandono de cada um.
É triste ver um túmulo abandonado, sem cuidados. Ele nos diz que a família acabou ou que os vivos se esqueceram de seus mortos.
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