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Crônicas & Artigos

em 20/03/14

Um gesto desconcertante

por Antonio Penteado Mendonça

D. Mariazinha, dizer o quê? Muito obrigado? Muito obrigado é pouco. Muito obrigado é uma pequena parte do que eu teria que dizer para agradecer a lição de vida, muito mais que o presente.

E o presente por si já vale o mais profundo agradecimento. Uma peça de família não sai da família senão por razões as mais sérias. A senhora me entregar uma peça que foi do avô do seu filho é um gesto de uma dimensão completamente fora dos padrões, hoje e sempre.

Seu gesto me desconserta, mas confirma o que eu sempre soube: a senhora é uma mulher extraordinária sob todos os aspectos.

Na saúde e na doença a senhora se supera. Na alegria e na dor, nas trombadas da vida, a senhora se supera. E na superação, diante da adversidade, é exemplo de caráter, de postura, de integridade.

D. Mariazinha, perder um filho é contra a regra da vida. Nós fomos feitos para enterrar os pais. E para sermos enterrados pelos filhos.

Por razões que não nos compete entender, Deus não quis assim e levou seu filho antes da hora.

O que eu fiz neste processo que justifica a senhora me dar o presente que deu? Muito pouco. Intercedi profissionalmente onde pude e como pude. Não fiz mais do que a minha obrigação como advogado especializado no assunto.

Seu filho era meu amigo. Pouco mais moço do que eu, crescemos dividindo o clube, a mesma turma, parte dos programas.

Como, numa hora difícil, eu não estaria com ele e com a senhora? Seria trair minha infância, o que meus pais me ensinaram, o que eu considero certo.

D. Mariazinha, o que senhora me deu, com o cartão que veio junto, não tem preço. Não é presente, é lição de vida. Por isso, obrigado é pouco.

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