Itamarati
Existem dois Itamaratis. O primeiro, mais importante sob vários aspectos e menos importante sob outros. E o segundo, menos importante em várias leituras, mas fundamental em outras.
Quer dizer, como sempre, entre o branco e o preto, desfilam uma infinidade de cores, mais ou menos soturnas.
O Itamarati que interessa é o segundo, o que reforma o mundo pela ótica surreal de gente interessada no mundo há mais de 60 anos.
O bom e velho Itamarati, que já teve dias mais gloriosos, mas que continua heroicamente dando conta do recado, aberto todos os dias no Largo do Ouvidor.
Pode mais quem chora menos. O Itamarati de Brasília, o lindo palácio que quase foi invadido por vândalos não faz muito tempo, é mais importante. Em compensação, tem feito bobagem em cima de bobagem, deixando o Brasil numa situação patética no meio do mundo.
O Itamarati do Largo do Ouvidor segue na sua toada de restaurante de centro decadente, aonde quem ia todos os dias, hoje vai raramente, mas mesmo assim continua com a casa cheia, com público novo dividindo o espaço com os antigos fregueses que ainda acreditam numa comida honesta, pelo preço justo.
Fazia tempo que não chegava lá. Outro dia, antes de ir para um evento no Tribunal de Justiça, fui buscar uma caneta que deixei para consertar na Ravil, no Edifício Martinelli, e depois fui ao Itamarati comer um omelete de queijo e presunto.
Cheguei no momento certo. Foi entrar e o céu caiu na cabeça de quem ainda estava pelas ruas de São Paulo. Choveu pra valer, uma boa hora. Foi o tempo de comer, esperar a chuva passar e tocar para o TJ. Constatação: o omelete do Itamarati ainda vale a pena.