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Crônicas & Artigos

em 20/01/14

O corno narcisista

por Antonio Penteado Mendonça

Pra quem não sabe, corno na língua portuguesa é sinônimo de chifre. As outras aplicações da palavra decorrem de fenômenos naturais que não cabem serem explicados na Crônica da Cidade. São matéria de história natural, da realidade dos animais e aparecem com regularidade nos canais de tv a cabo especializados no assunto.

Assim, o corno a quem eu me refiro, aliás, os cornos a quem eu me refiro, são as aberrações que surgiram como que do fundo da terra, parecidas com chifres de zebu nelore, parece que com a finalidade de informar a hora certa.

De repente, a cidade foi tomada por eles. Nos locais mais improváveis, sem padrão na distância entre um e outro, sem método em relação ao local, feios, de um cinza trágico, como que prometendo mais cinza e mais tristeza para a vida triste de quem fica no trânsito de São Paulo.

Promessa de danação. Prova da força do Demo. Das artimanhas do Tinhoso, os cornos do inferno se impuseram ao cidadão sem consulta prévia, sem aviso, sem esperança de que possam ir embora.

Estão aí. Como as chuvas de verão, os pernilongos, os marronzinhos, a violência e a certeza da perenidade da CET.

O mais curioso é que os cornos do inferno são narcisistas. Vários deles ostentam a frase “voltei mais bonito”, escrita em fundo amarelo, nos quadros que pendem deles como os enfeites dos chifres de bois nas feiras agrícolas europeias.

Quem diz “sou” não é, porque quem é mesmo é “não sou”. A Mona Lisa, os Girassóis, o Partenon, Guernica, Sofia Loren, Giselle Bündchen não andam com cartazes dizendo “veja como sou belo”. É para pensar no carro.

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