Os dados ruins vão mais fundo
Originalmente publicado no jornal Sindseg SP.
por Antonio Penteado Mendonça
Não bastasse a falta de chuvas, a ameaça de racionamento de água e energia elétrica em boa parte do país, e não apenas em São Paulo; não bastasse a inflação alta e o crescimento baixo; não bastasse o aumento de impostos, juros e desemprego, os dados ruins não acabaram e insistem em marcar presença.
De acordo com dados oficiais, a taxa de mortalidade por assassinato entre os jovens brasileiros até 18 anos é de três para cada mil habitantes. É um número impressionante, que fica ainda mais dramático quando se pega a estatística do nordeste, onde o número de mortes sobe para praticamente 6 por mil habitantes.
O quadro não é mais dramático porque São Paulo, com seus mais de 40 milhões de habitantes, conseguiu reduções expressivas, puxando a média para baixo. Atualmente, o estado está entre os melhores desempenhos do país, com 1,2 assassinatos de jovens por mil habitantes.
É difícil pensar na ideia de que três em cada mil brasileiros não completarão 19 anos de idade, mortos de forma violenta. Mas mais duro é verificar que este número tem subido constantemente, na maioria dos estados.
Isso significa que o país não tem políticas sociais e de segurança pública eficientes. Ao contrário, especialmente nas periferias das grandes cidades e nas cidades nordestinas que apresentam crescimento muito rápido, o que se vê é exatamente o oposto, com cada vez mais jovens perdendo a vida, vitimas de assassinato.
Se somarmos a este número o total de jovens com menos de 30 anos que morrem em acidentes de trânsito, a conta ficará horripilante. E se acrescentarmos ao resultado as centenas de milhares de jovens que ficam permanentemente inválidos anualmente, em função destes mesmos acidentes, o cenário será de absoluta desolação.
Mas há mais. A AIDS, doença até hoje sem cura, mas cuja epidemia o Brasil soube enfrentar com resultados entre os melhores do mundo, está crescendo de novo, justamente entre os jovens.
Ainda que os tratamentos para ela permitam cada vez mais aos portadores do vírus HIV uma vida normal, a verdade é que a doença não tem cura, e, na medida em que as vítimas são os jovens que não reconhecem a ameaça que ela representa, isso significa o aumento dos custos com a saúde pública, porque eles, justamente por serem jovens, viverão mais tempo, necessitando mais medicamentos caros para terem uma condição de vida digna.
Só isso seria suficiente para desanimar quem lesse o artigo, mas a descida é mais íngreme e mais longa. O fundo do poço está bem mais embaixo. E a curva se acentua, mais uma vez de forma negativamente aguda, com a inclusão nessa conta dos estragos monumentais que as drogas estão fazendo entre a juventude brasileira.
Não existe mais o consumo quase que restrito às grandes cidades. A epidemia se alastrou por todo o país e as drogas, especialmente o crack, vão cobrando um preço absurdo em vidas e em dinheiro para tentar tratar os dependentes.
Todas estas informações francamente ruins impactam negativamente o setor de seguros. E o impacto, ao contrário do que pode parecer, não é apenas em cima dos seguros de pessoas. Todos os ramos são afetados. Parte dos assassinatos é decorrência de tentativas de roubo ou furto que acabam mal. Os 60 mil mortos no trânsito morrem porque algum tipo de veículo está envolvido. E a mesma regra vale para os 600 mil inválidos.
Como o brasileiro ainda contrata pouco seguro e a faixa protegida não é exatamente a dos milhares de jovens que morrem anualmente, o problema, hoje, é muito mais da sociedade e do governo do que das seguradoras.
Mas isso não quer dizer que elas não paguem parte da conta diretamente e outra parte, maior, indiretamente.
Quanto mais rapidamente o governo se mover, melhor para todos, mas, acima de tudo, melhor para os jovens que deixarão de morrer.
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