Aumentam as mortes no trânsito
Originalmente publicado no jornal SindSeg SP.
por Antonio Penteado Mendonça
A notícia é ruim. As mortes no trânsito estão em alta. No primeiro semestre morreram 521 pessoas em São Paulo, aumento de mais de 30% em relação ao mesmo período de 2023. Esse número já subiu e até agora temos mais de 800 mortos, boa parte motociclistas e ciclistas, fora os pedestres que também pagam um preço alto, vitimados por acidentes de todos os tipos.
O que se vê nas ruas é o mais absoluto desprezo pelas leis de trânsito. O descalabro chega ao ponto de motoristas engatarem macha-ré em plena Marginal. E não é um motorista esporádico, flagrado como um lobo solitário, numa madrugada deserta. Não, a cena é cada vez mais comum e acontece em todas as horas do dia. E não é só nas Marginais.
Na outra ponta está a falta de fiscalização e das multas consequentes dessas infrações e de centenas de outras, as mais absurdas possíveis. A criatividade do brasileiro é infindável. Se os motoristas dos automóveis são capazes de desatinos impensáveis num país desenvolvido, os motociclistas e ciclistas não ficam atrás. Evidentemente, não são todos, mas os que cometem as infrações são cada vez mais numerosos e, ainda por cima, agressivos. Se alguém reclama eles são capazes de matar em nome do seu santo direito de fazer o que quiserem, tanto faz o que diz a lei.
“Ora, a lei… A lei a gente não conhece, não quer conhecer e dane-se quem pretende dirigir com base nas regras de trânsito. A gente faz o que quer e ninguém tem nada com isso”.
Lamentavelmente, é a mesma lógica que leva torcedores de torcidas uniformizadas a emboscarem torcedores de outras torcidas uniformizadas com o intuito de os espancarem e – por que não? –, se for o caso, matá-los.
Se olharmos os números da guerra da Ucrânia vamos ver que as mortes violentas no Brasil não ficam devendo nada a eles. E o trânsito é responsável por quase quarenta mil desses óbitos por ano.
Não tem dia que não aconteça um acidente de trânsito que mereça destaque na imprensa. São acidentes urbanos e nas estradas e as causas vão de imprudência a falta de manutenção da via, passando por manutenção precária do veículo, embriaguez, falta de habilitação, despreparo para dirigir o veículo e o mais que puder dar causa a um acidente com mortes. Para não falar nos acidentes sem mortes, que não chamam a atenção porque fazem parte da rotina das cidades e estradas.
Esta situação tem como consequência, fora as mortes, perto de quatrocentos mil casos de invalidez por ano. E um número maior de veículos danificados. Se somarmos aos acidentes os casos de furto e roubo de veículos, que também são atos violentos, o número cresce bem mais.
O resultado é que toda a sociedade é atingida e paga o preço. Mas tem um setor que sente ainda mais os efeitos das barbaridades que foram incorporadas à vida brasileira. As seguradoras pagam uma parte desses prejuízos, desde os pequenos acidentes sem vítimas aos grandes acidentes, com dezenas de mortos. E não são apenas os seguros de veículos que são afetados. A conta bate nos planos de saúde privados e nos seguros de morte e invalidez por acidente. Quer dizer, entre mortos e feridos, o seguro brasileiro não tem como custar barato.