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Crônicas & Artigos

em 15/04/22

Crise, fome, violência e seguro

Originalmente publicado no jornal SindSeg SP.
por Antonio Penteado Mendonça

Em 2020 o Brasil entrou numa crise complicada, em cima de outra crise da qual começava a sair. O governo do PT entregou o país devastado pela incompetência e pela corrupção. O vice-presidente, Michel Temer, ao assumir a presidência da república, fez um trabalho de mestre e em dois anos conseguiu resgatar as boas qualidades da sociedade e da economia nacional, interrompendo a queda desenfreada que vinha arrebentando as boas práticas implantadas depois do Plano Real.

O problema é que o governo que o seguiu, democraticamente eleito, prometendo combater a corrupção e implementar as reformas que faltavam para completar o trabalho de resgate e dar ao país condições modernas de competitividade não fez isso. Ao contrário, loteou a máquina pública federal, atraindo partidos de todos os tamanhos e pessoas de todas as origens, em troca da distribuição de cargos e vantagens para ter o apoio indispensável para manter as investigações de atos irregulares afastadas da Esplanada dos Ministérios.

O que ninguém esperava é de repente o mundo fosse assolado por uma pandemia devastadora, que o presidente da república chamou de “gripinha” e que matou até agora, mas de seiscentos e sessenta mil brasileiros.

A crise decorrente da pandemia cobrou um preço caro que teve como principal consequência o aumento da miséria, com dezenas de milhares de brasileiros sendo jogados, literalmente, nas ruas das grandes cidades, porque não tinham mais onde morar.

De acordo com números oficiais, o país tem hoje mais de cem milhões de cidadãos vivendo com até um salário-mínimo por mês e mais de quarenta milhões vivendo com menos de duzentos reais por mês.

É um quadro dramático que tem como consequência o aumento lógico e natural da violência em todas as suas formas. Começando pela fome e pela destruição da dignidade, duas formas extremas de violência contra o ser humano, o que se vê hoje nas ruas do país assusta e leva a desdobramentos terríveis.

A desestruturação familiar, a perda do domicílio – morar nas ruas, debaixo de pontes e viadutos, gera automaticamente outras formas de violência que impactam todas as estatísticas sociais e não apenas os números que afetam a classe média. A desmotivação, a vergonha e a humilhação levam ao aumento do consumo de drogas e álcool; o esgarçamento dos laços familiares e das noções de respeito levam a atos de violência física, a assaltos e agressões; e a perda dos parâmetros morais mínimos indispensáveis para preservar o corpo social cria o cenário perfeito para a degradação da pessoa.

Daí para a frente, o crime surge como resposta para parte destes problemas. Quer como forma de financiar o vício, como forma de conseguir recursos para comprar alimentos, como vingança contra quem também é vítima do processo, a violência se torna parte do cotidiano das pessoas e cobra um preço absurdo, na sequência de ocorrências escabrosas que invariavelmente enlutecem e envergonham a sociedade. Neste cenário, não há o que fazer. O seguro vai obviamente custar mais caro.

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