Os desafios do seguro de veículos
Originalmente publicado no jornal SindSeg SP.
por Antonio Penteado Mendonça
Nos próximos anos, os seguradores de veículos terão que reinventar seus produtos. Não basta simplesmente uma maquiagem ou uma dourada na pílula. A nova realidade traz desafios que tornam as mudanças indispensáveis para o sucesso do negócio e para bem atender as demandas da sociedade.
Hoje é possível se ter uma noção do que vem pela frente, mas se o desenho macro do que vai acontecer já pode ser visto, o desenrolar do filme ainda está escondido atrás dos trailers que vão passando agora e que prometem mudanças emocionantes a partir de hoje.
Até a virada do milênio, o sonho de consumo dos jovens era o primeiro automóvel. Todos queriam ter seu carro e, depois de consegui-lo, a maioria queria personaliza-lo, deixá-lo com sua marca, incrementando o que vinha de fábrica com som mais potente, rodas e pneus especiais, buzinas diferentes, faróis auxiliares, etc.
Como disse certa vez Dona Beatriz Larragoiti, então conselheira e acionista controladora do Grupo Sul América, “o brasileiro prefere segurar a máquina que vai matá-lo do que a própria vida”. E era verdade, o brasileiro preferia segurar seu automóvel do que a própria vida. Mas era um seguro bem diferente, bem mais rudimentar do que o seguro de veículos atual. E se alguém dissesse que o mercado caminharia para o que temos hoje, seria chamado de louco.
O máximo que se tinha era o bônus. Ninguém falava em perfil do segurado, nem em seguro para motocicletas ou seguro para taxis. As coberturas eram as mesmas, casco, responsabilidade civil e acidentes pessoais de passageiros, mas as seguradoras eram muito mais contidas na forma de oferecer o produto e veículos um pouco mais velhos simplesmente não conseguiam contratar o seguro.
Na década de 1980 esse cenário começa a mudar. A Porto Seguro Seguros revoluciona o mercado, transformando o seguro de veículos na principal carteira, graças ao redesenho das apólices e à inclusão de novidades como guincho e outros serviços que foram sendo acoplados às apólices. Depois, o perfil do segurado mudou o conceito da taxação, com o bom segurado sendo privilegiado com descontos e vantagens e o mau segurado sendo penalizado com preço mais elevado.
Este é o momento atual, mas, mais uma vez, o que vem pela frente vai mudar tudo rapidamente. Os desafios são grandes e vão desde a reformulação do seguro obrigatório até a criação de seguros para veículos compartilhados, veículos autônomos, veículos mais velhos, passando pelo redesenho das apólices atuais, que vão se tornando insuficientes para atender as necessidades de proteção dos segurados.
As mudanças de hábitos da sociedade estão alterando comportamentos e necessidades, com impactos diretos e indiretos em todas as áreas da atividade econômica. O seguro não é exceção e o seguro de veículos é dos mais afetados.
A produção de veículos novos deve perder força, com o envelhecimento da frota se impondo como o novo cenário. Os veículos elétricos devem ocupar cada vez mais espaço e isto trará uma profunda revolução, que fará a manutenção como a conhecemos estar com seus dias contados.
O compartilhamento de veículos, o uso cada vez mais intenso de veículos de aplicativos, o crescimento da frota de motocicletas, o uso de outras formas de locomoção, como bicicletas, e a expansão e sofisticação das redes de transporte público são desafios conhecidos e sabemos que terão impacto direto na carteira de seguros de veículos, o que não quer dizer que será bom ou ruim, será apenas diferente.
Mas existem desafios que, se nós sabemos que surgirão, ainda não temos condições de compreendê-los e dimensioná-los, nem de saber com que velocidade se transformarão em realidade.
Ninguém tem dúvida de que o mundo pós pandemia do coronavírus será diferente. O problema é que, neste momento, nós não sabemos ao menos quando a pandemia será controlada, então, desenhar o funcionamento da humanidade depois dela é simples futurologia.
Algumas atividades não sofrerão grandes mudanças, outras desparecerão e outras irão surgir. Apenas é muito cedo para imaginar quais os impactos que terão sobre os seguros de veículos. Quem viver, verá.
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