E agora que a festa acabou?
Originalmente publicado no jornal O Estado de S.Paulo
por Antonio Penteado Mendonça
Depois de tomar de sete a um dos alemães na semifinal da Copa do Mundo, parecia que nada poderia ficar pior. Mas não foi isso o que aconteceu. Ficou pior. Ainda que apresentando ligeira queda em relação ao período anterior, a inflação ultrapassou o teto da meta do Banco Central e isso é ruim para todos os brasileiros, mesmo com o governo tentando disfarçar a má notícia.
Com os atuais 6,52% prometendo se manter pelo menos ao longo do próximo trimestre, o quadro brasileiro deixa de ser um leve mal estar para se transformar em febre, capaz de deixar sequelas no paciente. O duro é que o Banco Central não tem nenhuma ferramenta para modificar o quadro no curto prazo, exceto manter as intervenções no mercado de câmbio, para evitar a desvalorização do Real, com limitado efeito e alto custo para o país.
A situação só não é pior porque o governo continua segurando os reajustes dos preços administrados, especialmente combustível, ainda que correndo o risco de comprometer a saúde da Petrobrás, que é quem está, até agora, pagando o grosso da conta.
Lembrar que com essa política o governo está inviabilizando o álcool combustível e quebrando o setor sucroalcooleiro é chover no molhado, mas não parece comover as autoridades econômicas, mesmo com o risco de desemprego numa área sensível da sociedade.
Se os preços administrados não estivessem achatados, a inflação estaria beirando os 10% ao ano. Número maior do que o dobro da meta e bem acima do teto. Como a população vive a segunda realidade, com os preços do custo de vida subindo quase que semanalmente nos supermercados da vida, ela sente no bolso a diferença entre a realidade e o discurso.
É um quadro complicado, com tudo para se complicar mais em função das eleições de outubro. O único dado positivo é que é um ano curto, já que as campanhas estão nas ruas e daqui pra frente a tendência é se tornarem mais intensas.
O Brasil está longe da situação argentina, mas os prognósticos de médio prazo não são bons. Com crescimento próximo de zero, inflação acima do teto da meta do Banco Central, aumento da inadimplência, aumento da dispensa de funcionários com salários mais altos, planos de demissão voluntária, queda da venda de veículos novos, encalhe de estoques de produtos que não venderam durante a Copa do Mundo e outras mazelas que pegam pesado, como o aumento constante da criminalidade, especialmente roubos e furtos, não tem como prever que 2014 terá final feliz.
No começo do ano os executivos do setor de seguros esperavam manter o crescimento na casa dos dois dígitos. Ainda que com desempenho positivo, a previsão não irá se confirmar. Mas mais preocupante é que os fatores negativos apontados acima impactam diretamente os seguros gerais, seguros de pessoas, planos de previdência privada aberta e os planos de saúde privados.
Para completar, as resseguradoras locais, em sua maioria, não estão operando no azul e se não fossem os números do IRB Brasil RE, que tem uma grande fatia do mercado, o segmento como um todo, de acordo com executivos da área, apresentaria prejuízo.
Isso tudo significa que as despesas com as operações de seguros estão subindo e a remuneração dos investimentos (importante fonte de receita para o setor) está caindo, comida pela inflação em alta.
A única solução para manter a rentabilidade seria o aumento do preço, mas ela está comprometida pela impossibilidade da sociedade pagar mais, pelo risco da perda do emprego, pela existência de prioridades mais prementes e pela própria concorrência entre as seguradoras, onde empresas, pressionadas pela necessidade de caixa, baixam os preços para aumentar a produção e o faturamento, esquecendo-se dos sinistros.
Não é caso de pânico, nem de se temer quebras ou imaginar que o balanço consolidado do mercado em 2014 fechará no vermelho. Mas é o momento de se fazer uma análise sobre o que está acontecendo e adotar as medidas mais eficientes para evitar as perdas decorrentes de um quadro de vacas magras.
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