A vez das pitangas
Tem quem ache que demorou, mas não demorou. É que o ano passa no seu ritmo próprio e às vezes nós não nos damos conta de que a vida não passa tão depressa assim. Que um dia segue o outro e que não adianta apressar a toada do sol, ele viaja na velocidade do universo.
Quem somos nós pequeno planeta escondido no canto da Via Láctea para querer alterar a ordem cósmica e girar mais rapidamente do que 24 horas por dia?
É por isso que não tem como não reconhecer que elas estão dentro do seu tempo, nem antes, nem depois, mas na hora certa de darem as caras e enfeitarem as árvores com sua cor vermelha.
Algumas vezes as amoras e as pitangas engatam uma na outra e as pitangas pegam carona no fim da carga das amoras. Mas isso não é regra imutável, nem promessa, então, nem sempre é assim.
Este ano as amoras vieram e se forma sem cruzar com as pitangas. Quem sabe uma ou outra, fora do padrão, demorou mais e por isso está dividindo um resto de tempo.
As pitangas não perguntaram se podiam vir, nem pediram licença. Simplesmente, chegaram, entraram em cena, “ói nóis aqui tra’vez”.
As pitangueiras estão carregadas e os sabiás alegres. Além de fazer seu ninho nas árvores, não tem porque não comer os frutos vermelhos, do tamanho certo para os bicos esfomeados.
Mas não são apenas os sabiás que comem pitangas. Dá trabalho, mas tem pouca coisa melhor do que encostar uma escada na copa da pitangueira, subir, colher os frutos nos galhos e come-los, sentindo o gosto típico da fruta tomar a boca.
Mas tem que ser rápido. As pitangueiras chegam, dão o ar da graça e vão embora. Quem comeu, comeu, quem não comeu não come mais.
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