40 anos atrás
Cortei a torrada, coloquei o queijo em cima e, ao passar o mel, me lembrei do apartamento de meu amigo Otto Friese, na Isestrasse, em Hamburgo.
Faz 40 anos, mas a lembrança veio forte e quente como se estivesse na pequena cozinha do apartamento, sentado na mesa, passando queijo Philadelphia e geleia de morango na torrada quente tirada da torradeira.
Foi um tempo muito bom. A vida pegava relativamente leve e a saudade do Brasil era anestesiada pelas descobertas diárias e um ritmo de vida completamente diferente da que eu tinha aqui.
Depois de Berlim, Hamburgo. Antes de viajar para a Alemanha, eu já sabia que faria a maior parte do curso em Hamburgo.
E eu me apaixonei pela cidade, o segundo porto da Alemanha e, na época, não sei se ainda é, a cidade mais rica do mundo.
Mas o que a torrada me fez lembrar não foi o skyline único e maravilhoso, formado pelas torres das igrejas e da prefeitura, nem os dois lagos, nem o porto, nem os canais que cortam a cidade, um deles pertinho do apartamento do Otto.
A torrada me fez lembrar da vida na cidade. Da amizade com o Otto, do pessoal do antigo IBC – Instituto Brasileiro do Café, do Zippel, o diretor, que, apesar do nome, era brasileiro, e do querido Borges, seu vice, que me emprestaram uma sala no escritório do Instituto para escrever meu trabalho de encerramento do curso.
Me lembrei da Nazareth, mulher do Zippel, e de sua filha Cristiane, da Katia, do Paulinho, um gênio no piano, e dos meus companheiros alemães da Secretaria do Porto, com quem regularmente jogava futebol.
Me lembrei de um tempo bom, de pessoas boas e de uma experiência fantástica. Santa torrada, que me fez respirar vida, lembrando o passado.
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