Tempestade fora de hora
Que o clima mudou ninguém tem dúvida. Tem quem tente justificar explicando que, como nós exportamos tecnologia política nacional para os quatro cantos do mundo, o mundo exportou para cá fenômenos naturais que nós não conhecíamos. Furacões, tornados, vendavais e até terremotos, ainda fracos, mas que não têm razão nenhuma para não crescerem.
O clima mudou muito. Você descobre isso quando, um belo sábado, acorda, olha o céu, vê um lado cinza claro e o outro negro como as asas da graúna, pesado, carregado, anunciando uma forte tempestade fora de época. Afinal, estamos no meio do outono, não é o momento deste tempo entrar.
Mas entrou. Entrou como manda o figurino, com força total. Primeiro, ficou escuro como se fosse começo de noite. Um escuro denso, anormal, fora de hora e de contexto.
Depois, começou a ventar. E o vento foi crescendo, crescendo, as árvores começaram a se dobrar, os galhos arremessados para um lado e para o outro, as palmeiras vergaram, enquanto suas folhas eram sacudidas feito pedaços de papel pela ventania ensandecida.
Uma folha foi arrancada e saiu voando. Não uma folhinha de jabuticabeira, não! Folha de palmeira, pesada, grande. Saiu voando para o outro lado do muro, caiu na rua, mas o vento estava tão forte que não deu para ouvir o barulho da queda.
Chora mais quem pode menos, a regra é velha e serve de aviso para quem ousa desafiar a força da natureza, na época certa ou não. Diante do tempo fechado, da tempestade assobiando forte, não somos nada. Ou menos que nada.
Assistimos, impotentes, a força do vento atirar a água da chuva em pingos grossos, que parecem pedrinhas batendo na vidraça. A luz acaba. Aí só resta ter paciência e acreditar que em algum momento passa.
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