Deserto
O deserto do Saara tem imensas regiões sem um único arbusto, uma graminha que seja. O deserto norte-americano, ao contrário, tem vegetação, boa parte formada por cactos com espinhos, debaixo dos quais as cascavéis vivem no meio das pedras. O deserto do Atacama é lindo, mas tem salares onde apenas os flamingos conseguem sobreviver. A caatinga brasileira é dura e inóspita, como descobriram os soldados que perderam a vida na campanha de Canudos.
O cenário político brasileiro é um enorme deserto, dependendo de onde se observa, com características típicas e diferentes.
Não há um único nome que empolgue, isso quando há um nome.
Tanto faz o nível da eleição, quem é seu candidato? Em quem você votaria com convicção, com vontade, com certeza de que não é o menos ruim, mas o melhor?
Em quem você votaria para senador? Para governador do seu Estado? O deserto de nomes assusta. A mediocridade apavora. Depois das eleições, o destino do Brasil estará nas mãos de quem?
As pesquisas são trágicas. Eu sei que não se deve levá-las muito a sério e que ainda é cedo para ter uma melhor definição, mas nunca na minha vida vi uma situação parecida com a deste ano.
Faltando seis meses para as eleições, o horizonte é completamente opaco. Além da ausência de nomes, há a ausência de projetos de polarizações, de vontade de votar.
O que há são os velhos cactos da política tentando sobreviver na secura do deserto.
O vento das apurações policiais e da vontade popular é reduzido pelo biombo das altas cortes de justiça, mas isso não será suficiente para mudar o drama. O deserto político nacional assusta mais que se perder no Saara.
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