Agora é Copa e hora de não perder o foco
Originalmente publicado no jornal O Estado de S.Paulo
por Antonio Penteado Mendonça
Agora é Copa do Mundo de Futebol. Não tem como, com todas as ameaças que pairam sobre a competição, o Brasil está no coração da população e a seleção brasileira é o assunto da vez.
A realização de uma Copa do Mundo de Futebol é uma lição para quem trabalha com seguros. Com bilhões de dólares envolvidos na construção da infraestrutura para os jogos, além dos interesses em lucro e retorno de imagem, não há como não criar uma rede de seguros altamente sofisticada, destinada a proteger o capital investido, a realização do evento e a responsabilidade dos organizadores.
Imaginar que a FIFA não tem o que existe de mais moderno garantindo a realização do evento é não saber como as grandes organizações internacionais operam. Está tudo segurado e os valores devem atingir patamares significativos, principalmente no que diz respeito às responsabilidades da própria FIFA, de seus sócios, associados e prestadores de serviços.
Imagine o valor das indenizações se acontece um acidente num estádio ou no seu entorno, seja pela razão que for. Com certeza, o desmoronamento do estádio e os danos que podem advir de acidentes em volta estão segurados com capitais bastante elevados.
Mas não é só isso que precisa de seguro. A transmissão pela televisão, geração de imagens via satélite, internet, rádio e todo o sistema de comunicações envolvendo uma Copa do Mundo significa muito dinheiro. Por isso um acidente no meio do percurso pode comprometer até mesmo a sobrevivência da entidade responsável, caso ela não tenha a proteção exigida para fazer frente a um acidente de grande porte.
Quando se pensa que metade da população da terra deve assistir aos jogos da Copa do Mundo no Brasil, fica claro o tamanho da encrenca e que não dá para deixar ao Deus dará ou construir um programa de seguros para inglês ver ou dizer que tem.
Há muito em jogo e este muito está bem segurado. A questão que se coloca é se o Brasil também fez a lição de casa e as obras sob nossa responsabilidade, especialmente os grandes projetos de mobilidade urbana, estão também segurados de acordo com os patamares internacionalmente aceitos.
Confesso que tenho algumas dúvidas. Não por conta da incúria das grandes empreiteiras brasileiras. De forma alguma. Elas são reconhecidamente empresas altamente sofisticadas e não correriam o risco de fazer mal feito, ou sem proteção, as obras sob sua responsabilidade.
Mas não são apenas as grandes empreiteiras que devem contratar seguros. Empresas contratantes das obras e o governo, em todos os seus níveis, têm responsabilidades claras, que podem causar danos de monta, que, não tendo a proteção de apólices de seguros, podem custar muito caro para a nação.
Além disso, a desaceleração da economia começa a mostrar sinais de haver afetado o desempenho do setor de seguros ao longo do ano. O crescimento na casa de dois dígitos pode não acontecer e isso quer dizer que estão contratando menos seguros.
Não as grandes empresas, mas a população em geral, notadamente a nova classe média e a classe média tradicional, ambas responsáveis pelo real crescimento do setor ao longo das últimas duas décadas.
Menos seguros significa maior potencial de perdas não recuperáveis. Em outras palavras, menos seguros quer dizer o empobrecimento do país em função da ocorrência de perdas que não serão repostas pelas seguradoras, mas terão que ser suportadas pela sociedade.
Ninguém discute que as pessoas não estão contratando seguros apenas porque não querem. A desaceleração da economia trouxe junto a queda nas vendas de uma série de produtos que puxam consigo a comercialização de seguros, começando pelos veículos zero km e pelos imóveis novos.
A retração nas duas áreas é nítida e tende a se agravar. Como se não bastasse, os produtos chamados da “linha branca” também já não vendem como antes, afetando seguros populares, como as garantias estendidas.
Entre secos e molhados, é hora de uma reflexão mais profunda sobre a realidade nacional e o cenário para os próximos anos. Se não se fizer nada para modificar o quadro atual, não é apenas o setor de seguros que vai amargar tempos de vacas magras.
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