Engraxataria aeroporto
A rapidez das mudanças do mundo é impressionante. O que valia ontem não vale mais hoje e desaparece amanhã. Profissões, tradições, locais, moda, história, informações, tudo, absolutamente tudo, muda na velocidade de um clique num telefone celular.
Pode mais quem chora menos. Que o digam os taxis, os agentes de viagem, as lojas de departamento, a indústria automobilística, os hotéis, os tapetes persas e tantas outras coisas que foram perdendo a vez, muitas vezes sem perceber o que estava acontecendo, até acontecer de simplesmente serem colocados para fora.
Entre eles me chamou a atenção a engraxataria do aeroporto de Congonhas. Durante décadas foi lotada. Tinha fila para engraxar os sapatos. Até depois do desaparecimento de parte dos engraxates do Centro, a engraxataria do aeroporto se mantinha, cheia e engraxando bem.
Na semana passada, viajei para o Rio de Janeiro e, como cheguei cedo no aeroporto, decidi engraxar meus sapatos. Pelo horário, fui imaginando que estaria lotada. Não estava. Tinha só uma pessoa engraxando. Aquilo me desconcertou e comecei a pensar no fenômeno. A resposta é que a engraxataria do aeroporto é vítima do check in eletrônico.
Até há alguns anos, as pessoas eram obrigadas a chegar pelo menos uma hora antes do embarque para fazer o check in. Feito, não tinham mais nada para fazer até a hora do voo. Então aproveitavam e iam cuidar do sapato, lotando a engraxataria, que sempre trabalhou muito bem.
Com o check in eletrônico, não tem mais porque chegar com grande antecedência. Vinte minutos são suficientes. Aí não sobra tempo para engraxar os sapatos. Como se não bastasse, os sapatos também perderam espaço para os tênis e sapatênis, que não precisam de graxa. Mais um pouco, é triste, mas os engraxates estão com os dias contados.
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